Nasci em 1945, no ano em que a Segunda Guerra terminou e no dia e mês em que o mundo passou por um momento dramático de transformação: o ataque das torres gêmeas em Nova York: 11 de setembro. Sou filha da imigração: meus pais, judeus, fugiram da Alemanha e Áustria para desembarcarem no porto de Santos nos anos 30.
Ter sido criada no pós-guerra traz conceitos e pontos de reflexão cujas raízes nascem diferentes das pessoas nascidas nos anos 70 e nos dias de hoje.
Na escola, à época do primário e ginásio, escrevia-se em páginas pautadas com a obrigação de aprendermos a escrever o certo em linhas certas. Acabava o ano letivo e sempre sobravam páginas em branco. Era nelas que eu escrevia à vontade e guardava os segredos do meu diário. Ainda guardo todos eles.
Nesta época, casava-se virgem, obedecia-se aos pais com pouca liberdade para retrucar, não se abraçava filhos, esperava-se deles uma profissão “normal” do tipo advogado, médico, engenheiro. Quem usasse cabelos compridos, jeans, brincos e fumasse maconha, era uma figura sem aceitação social nos círculos conservadores. Era hippie e olhado com desdém como quem não quer nada com a vida. Tênis praticamente só para jogar tênis mesmo. Cresci sem televisão porque meus pais achavam que desviava a atenção dos estudos. Optaram pela rádio vitrola e eu, escondida deles, ouvia baixinho, encantada, novelas no rádio.
Nos anos 60 comecei a fotografar com uma máquina emprestada do meu pai, um fotógrafo que se tornou importante, Peter Scheier, suas fotos, hoje, bem aclimatadas no Instituto Moreira Salles. Lia orientada pelo meu pai. Minha mãe, mais pragmática com as coisas da vida, me fez aprender estenografia, datilografia, tocar acordeom, bordado e a cozinhar na esperança que me tornasse esposa e secretária. Nenhuma dessas habilidades me serviu como profissão. Tampouco cursei faculdades que me ensinassem o que realmente eu gostava: história da arte e arqueologia.
Vivi mundo afora aprendendo sobre arte, visitando museus e estudando por conta própria até começar a trabalhar com o Professor Bardi no Museu de Arte de São Paulo na Rua 7 de abril, ajudando-o na edição de seus livros. Eu tinha 16 anos e minha primeira carteira assinada.
Sou autodidata em todas as ocupações que exerci até hoje. Para o final dos anos 60 fui jornalista na revista Manchete no Brasil e Nova York e posteriormente no início da revista Veja. Na minha época se improvisava mais!
Por hábito, não só continuei a improvisar e me tornei uma empresária quando herdei a Companhia e Transportadora Translor de meu marido Walter Lorch em 1974. Ela caiu no meu colo por testamento tornando-me a principal acionista da empresa. Na mesma proporção da surpresa nada entendia de transportes.
Depois de alguns anos, aceitei cargos políticos em diversas instituições batalhando por melhores leis, estradas, pela implantação de processos de logística sob a batuta do governo.
Por fim, aventurei-me na área de Sustentabilidade com um projeto no Binômio da Amazônia. Ele terminou depois de 15 anos de luta.
Grosso modo essa foi minha vida pessoal. Se fosse para defini-la em palavras ilustrativas, estas seriam: trabalho, improvisação, sobrevivência, aprendizado.
Diria que é possível ser feliz produzindo resultados mesmo incorrendo em enganos. É possível,sim, abraçar várias profissões ao longo de uma vida, algumas com mais sucesso do que outras. É um trajeto consciente de transformação contínua.
Nesse momento específico direciono a flecha para este novo projeto, o site bettinalenci.com.br
Aqui encontro grande prazer ao compelir histórias que escrevo. Gostaria de construir este espaço para repassar experiências adquiridas em parte intuitivamente, aprendizados acumulados para multiplicar e dividir com aqueles que se predispõem a me acompanhar neste périplo de último atalho.
Na juventude, tive início profissional em história da arte, fotografia e reporter. Deixei de lado essas possíveis profissões para, durante o tempo que o destino me fez ser empresária porem, sem jamais deixar de me dedicar à escrita anônima. Gosto especialmente de crônicas e de criar histórias através de contos e novelas. Ao longo do tempo, construi uma visão de mundo mais sombria em busca de personagens alinhados às virtudes, às relações afetivas, erros e acertos nas suas vidas, acompanhando seus processos de transformação. Através destes recursos e de um olhar receptivo sobre o pensamento da alma, tento transpor para o papel o Real Cotidiano de todos nós.
Parabéns, querida Bettina !
Que linda história de vida, digna de ser divulgada, para servir como exemplo e estímulo a tantas pessoas que estão precisando muito de um incentivo e um exemplo
a ser seguido!
Bravô. !!!
Bettina Lenci impressionou-me profundamente quando a conheci já na direção da Translor !
Vi nela um misto de tenacidade e delicadeza amalgamadas em uma só pessoa, bela e encantadora!
Difícil traduzir sua personalidade que de alguma forma foi sendo revelada ao longo dos anos em seus contos e narrativas !
Nossos caminhos não nos aproximaram muito mas guardei sua lembrança entre as mais caras e admiráveis !