Dia 14 – A Panela Wok
Hoje acordei bem-humorada e mais cedo do que de costume: ontem à tarde minha filha veio – de longe – para andar comigo, na verdade duas voltas no quarteirão. Cansei, confesso, mas o humor voltou.
Hoje acordei bem-humorada e mais cedo do que de costume: ontem à tarde minha filha veio – de longe – para andar comigo, na verdade duas voltas no quarteirão. Cansei, confesso, mas o humor voltou.
Não é que hoje, pela terceira vez esta semana, passou o carro vendendo pamonhas! Ininterruptamente, ele comunica um mantra no seu altíssimo alto-falante:
Li em algum lugar que para escrever, é preciso de tempo. Também acho, só que não encontro esse tempo. Quando a quarentena começou, fiquei exultante e pensei:” oba, vou poder me dedicar ao romance que ensaio há muito tempo começar”. Qual o quê!
Transcrevo trechos de um artigo que acredito contribuirá com um dos sentimentos mais escuros da nossa alma nesse momento acerbado pela pandemia. O artigo é de Simon Critchley para o jornal americano New York Times.
O artigo descreve o cenário que cada um de nós pode estar vivendo, e quem sabe, pode vir a aliviar a enorme decisão e responsabilidade de continuar a ficar em casa. Seu conteúdo é filosófico e eu não saberia escrever tão clara e eficazmente quanto o texto do articulista (abaixo). Acredito que abre novos recursos para reflexões que podem nos guiar nesses momentos em que o medo e os pensamentos sobre a nossa finitude emergem em nossas cabeças.
Como foi o domingo de páscoa de vocês? Via internet? Desinfetaram os ovos que receberam por Delivery? Ao vivo, quantas pessoas entorno da mesa, o cheiroso bacalhau foi degustado?
Passei o dia irritada. Irritada com as notícias do Planalto. Irritada com os três poderes da República. Irritada porque perdi a hora de acordar, provavelmente cansada da solitude, irritada com a bateção de metais de uma obra em frente do prédio, e como se não bastasse irritada com a minha falta de atenção ao cozinhar o arroz. Explico:
Hoje o dia começou meio que inesperado! Esqueci que se pagava contas! Tanto que não sei em que dia da semana nos encontramos, guardei os pagamentos datados como se não mais existissem quando em quarentena.
Contas a pagar com apenas a metade do saldo “normal “na conta do banco. O que fazer?
Hoje vou transcrever um poema como sendo uma página do Diário em Quatro Paredes. É do meu poeta preferido Mario Quintana.
Fui à biblioteca buscar o livreto de seus poemas, depois que li no jornal duas notícias, quase escondidas, que para mim são importantes. Vou repassá-las a vocês e depois transcrevo o poema que chegou a me tocar nesse momento que nós, obedientes, permanecemos em casa.
Onde moro os apartamentos “convivem” suficientemente perto para que se ouça e veja o que se passa no apartamento em frente. Por exemplo, minha cozinha, que fica no fundo, dá para a sala de visita e para os quartos onde mora uma família.
Hoje senti mau humor. Não sei se foi por conta da difícil tarefa de me manter entre quatro paredes ou porque tive um sonho. Talvez ambos, e a perspectiva de submeter-me aos terapeutas de plantão é estranha, pois teria que contar precedentes e histórias de vida. Pelo que entendi, essas almas cidadãs estão atendendo as angústias, medos, pânicos, decorrentes da situação, sintomas que, por enquanto, ainda não alteraram o meu cotidiano. Achei esta iniciativa tão importante e benéfica, que quis compartilhar com vocês.