Armando não conseguia dormir sozinho em um quarto desde criança. Habituara-se a dormir ao lado dos pais e irmãos, apenas separado por uma cortina de lençol. Crescera e, mais por conta da companhia noturna da esposa do que por amor, casara-se. Armando, por prazer ou medo, quando viajava para vender as enciclopédias da Editora Barsa, profissão antiga e na época bastante rentável, recebia uma cota extra para pagar o hotel e um carro com gasolina.
Por conta do seu pavor noturno, monstros espreitando vorazes para rasgá-lo em pedaços, cobras licenciosamente insinuando-se pernas acima, passou a conhecer os prostíbulos de cada parada para pernoite.
Armando além da sua psicose ou como resultado dela, talvez por ter sido criado em casa de um cômodo só, muito precocemente adquiriu o desejo incontrolável e intenso por sexo. Assim sendo, literalmente trepava por cima da moça e se satisfazia rapidamente num ritual escabroso e sagrado.
Era um hábito que lhe custava caro porque as escolhidas precisavam ficar acordadas a noite toda. Era lhes vetado dormir.
Na infância, Armando descobrira que ao fazer sexo para si acalmava-se e conseguia dormitar por poucas horas. Adulto, entre um ato sexual e outro, com prostitutas, o efeito era o mesmo. Em casa, na cama com a esposa, não dormia. Conseguia cochilar. Respeitava a mãe de seus filhos.
Com prostitutas era diferente. Com elas conversava, jantava, tomava vinho, relaxava e trepava várias vezes por noite. Ouvia sobre suas vidas, interessado, em especial, pelas razões – que não só o da pobreza – do por que das suas escolhas. Dedicava a elas o mesmo afeto que sentia pela esposa e filhos. Elas eram suas esposas.
Fazia-se uma pergunta recorrente: por que não tornar-se um proprietário de bordel? Ele as protegeria e simultaneamente as teria a noite acordadas ao seu lado! Para ele, tanto fazia sentir-se parte de uma família convencional ou de uma família constituída de prostitutas, o que importava era o seu bem-estar, portanto nada havia de ignóbil se optasse em ser cafetão.
Anos se passaram.
Um dia, ou melhor, numa noite de insônia apavorante, arfante, suando de agonia e vergonha na cama conjugal, tomou a decisão: iria viver entre prostitutas. Mais alguns poucos anos se passaram. Na rentável e nova profissão conseguiu montar uma casa de tolerância – como se dizia antigamente, – com as cinco prostitutas
De sua preferência, as que sempre melhor lhe fizeram companhia noturna. No início das atividades, passou a dormir por mais tempo dispensando os serviços de suas empregadas. Estava calmo e satisfeito. Mais alguns anos e um dia percebeu que, à medida que caía sua potência para empreender vários coitos durante a mesma noite, o problema da insônia voltara com mais assiduidade. Além disso, também as conversas das prostitutas, entre um ato sexual e outro começaram a ser iguais àquelas de sua esposa no passado. Elas, igualmente à sua esposa, buscavam amor, carinho e atenção em troca, algo que ele não sabia, não queria ou não podia dar. Ele era um fazedor de amor de um umbigo só: o dele, impessoal.