26 de março de 2020
Recebo a cada minuto piadas, informações, previsões desastrosas ou recomendações sobre como me proteger da Bolinha.
A Bolinha é esta Coisa que está no ar e que parece com um vírus. Colorida com um monte de espetinhos de borracha, lembra a bolinha que sou obrigada a apertar várias vezes para cuidar da minha artrite na mão.
(Descrevo a Bolinha com B maiúsculo porque a respeito e tenho medo dela. Quem sabe com toda essa reverência que lhe dedico ela me esquece e passa longe de mim!)
Os pessimistas sugerem que podemos estar vivendo uma guerra química.
Alguns até não descartam a hipótese de que há nações contra o mal administrado capitalismo judaico-cristão, de direita, liberal, branco, responsáveis por ter criado o vírus de propósito. Seria esta a consequência do mundo que foi globalizado?
Outros ainda acham que esta é uma profecia comparada às sete pragas do Egito. Nesse caso os judeus, sempre perseguidos, estariam a salvo!
Os místicos dizem que Nostradamus previu o fim do mundo. Só não precisou quando seria! Há quem afirme estar escrito nas estrelas, no fundo das xícaras, na leitura das cartas. É questão de fé ou não, a escolha é de cada um.
Não digo que nada disso não seja possível. Acredito em tudo e em nada. Perdi o achismo e pior, a minha opinião!
Com as leituras virtuais sobre o assunto, literalmente deixo o álcool (indicado contra a Bolinha) escorrer entre meus dedos sem pensamento algum a não ser se tenho alimento até o dia seguinte e como vou consegui-los sem que a Bolinha bata à minha porta e a abra com a mão na maçaneta.
Mas a Bolinha veio em meu socorro para apontar a educação que recebi em casa. No século passado, nos lares de classe média, uma regra era básica para as mulheres: precisava saber cozinhar para encontrar um marido. Igualmente saber administrar uma casa. Se, à época, havia uma ou mais empregadas domésticas, as filhas mais conscientes da condição social delas, observava limpando o banheiro, regando as plantas, cozinhando, enfim todas tarefas desenvolvidas no conforto da casa. A feira e mercado geralmente era a mãe que fazia e carregava a moça casadoira consigo. Os maridos e pais por sua vez achavam normal tudo acontecer sem se dar conta do trabalho que era manter a casa limpa, mesa posta e comida no prato, sem mencionar, que o prato tinha que ser lavado depois, assim como a sua camisa. Hoje é diferente:
Não foi a Bolinha que ensinou aos homens estas tarefas caseiras, contudo, com a existência dela, estão preparados para atender os serviços caseiros graças ao feminismo arduamente conquistado pelas “donas de casa” e mãe de seus filhos.
Apesar das várias formas das Bolinhas irem, ao longo da História, modificando radicalmente hábitos e costumes, diria que, as mudanças no quesito ajuda caseira por parte do Ser masculino foi para muito melhor – somente as mulheres solitárias, sem companheiros podem não concordar com esta teoria!
Contudo, a Bolinha trará transformações importantes e, eu gostaria de acreditar em fantasias : uma delas seria a de eliminar a propaganda que nos coopta a ter artigos de marcas excessivamente caros e nos faz endividar por conta de um desejo bobo. Outra seria o despertar da consciência em todos nós, de que a ignorância avassaladora – e aqui nada a ver com quem foi à escola ou come com garfo e faca – emergisse nas incompetentes cabeças dos quem têm o poder para engendrar ações que mitiguem este status quo mundial. Tenho tantos outros desejos, mas a fantasia mais presente seria a de que haveria no mundo uma distribuição de renda mais justa. Incomoda-me a desproporção, a falta de equilíbrio sadio na divisão do bem estar. Mas como disse, são fantasias de uma idealista. A esperança é acreditar que, a cada pandemonia disseminada mundo afora nos torne mais conscientes e obrigue a ações concretas para a melhoria do estágio civilizatório que nos encontramos nesse século XXI.
Me vem a mente o título , triste, de um filme do século passado “Assim caminha a Humanidade”. Os atores eram James Dean, Elizabeth Taylor e Rock Hudson este último um dos primeiros a morrer contaminado pelo vírus da Aids, e como o Coronavirus, o contágio era de pessoa à pessoa.
Acredito assim: com morte prematura de Rock Hudson o mundo moderno despertou para o medo de morrer por contato. Com o passar dos anos, os costumes foram se transformando, tanto assim que o índice de infectados pela Aids caiu após a pandemia dos anos 80. Hoje não é mais notícia!
Qualquer que sejam as Bolinhas voando por aí, elas são transformadoras da consciência tal qual foram a lepra, a peste, a varíola. São pragas criadas por nós mesmos, à favor da Humanidade e não contra ela.
Parabéns, Bettina!
Obrigada. Mesmo!
Tenho tentado fugir das informações disparatadas e agoniantes que todos recebem.
O próximo texto, acredito, sera sobre a morte e a solidão de todos nós, não só hoje, mas
na vida. Leia sempre que puder o meu site. Tem outros textos e crônicas bem mais
alegres, escritos em tempos de menos isolamento.
um abraço amigável.
bettina