Abro meio olho. Alvorece através da cortina. Quanto tempo ainda falta para eu levantar? Preciso me certificar com precisão: lembro que o relógio chinês que comprei na papelaria – encantada com o fato de ele projetar no teto a hora em vermelho – na segunda manhã igual a esta já estava inutilizado. Conformo-me em acompanhar a luz que vai clareando o quarto. Quanto falta para eu começar a viver depois do alvorecer através da cortina?
Acordar equivale a viver. Desde criança não gosto de acordar. Só não era mais sacrifício porque, dormitando, punha-me a pensar a vida, reduzidamente, com preguiça. Preguiça de viver tudo que minha imaginação criava.
Quando criança tinha que acordar para ir para a escola, minha mãe mandou. Hoje tenho que acordar para fazer ginástica, o médico mandou.
Entre o alvorecer e o ter que levantar da cama, crio novas lembranças.