Esqueci o assunto da crônica de hoje. Há alguns dias tive a intenção de colocá-la no papel mas não encontrei nem um rabisco para fazer-me lembrar do tema. Provavelmente o assunto tratava do excesso de informação diária e assim, esqueço a metade do que queria fazer uma vez que a outra está ocupada em acompanhar como caminha a Humanidade!
Nestes dias, em algum canal de TV, assisti uma matéria sobre pessoas depois dos 60 anos. Prestei atenção, curiosa e necessitada, pois sou freguesa deste Ibope.
Dizia, se me lembro bem, que a idade não é apenas uma questão de saúde física e mental e sim uma questão de prevenir-se contra a idade ao ir envelhecendo. Na verdade, subentendi que não devemos nos conduzir pelo trabalho do Tempo.
Aconselharam enfaticamente a necessidade dos exames anuais de praxe – que percebemos, angustiados, não tê-los feitos por esquecimento, não porque estamos envelhecendo e sim porque não estamos doentes! Seguem com a receita: exercícios chatos para as juntas não doerem. Também recomendam o Tai CHi Chuan para se alongar ou o Jogo da Memória e os cursos de computação para não esquecermos das coisas no presente.
Porém o que me divertiu e não concordei, é que o programa insistia em que os velhos, se dançarem muito e sempre, não envelhecerão. Esquecem menos que os não dançarinos. Acompanhei o baile inteiro filmado em um clube de dança para a “terceira idade” (para envelhecedores esta expressão é uma ofensa!). Dançavam concentrados e enrijecidos, mas eram bons pé de valsa no passado. Dançavam tango, arriscavam um Charleston e Cha Cha Cha ao som muito alto pressupondo-se que eram surdos também. Os ditos menos entrosados –segundo a proposta do programa entende-se como deprimidos – observavam os dançarinos vivamente presentes e participativos do momento.
A reportagem também sugeria a possibilidade de encontrar um companheiro (a) e se tornarem casais.
Será que os jovens produtores de tais programas sabem o que se passa na cabeça dos viúvos (as) e solteironas (rões) quando filmam o infalível selinho dos dançarinos? Fiquei tão sem graça!
Ainda sou capaz de escovar os dentes em pé e amarrar os meus sapatos e ao terminar o programa também me senti capaz de dançar. Acontece que não gosto!
Terminado o baile, um jovem entrevistador e uma psicóloga ensinavam ser perfeitamente possível ter sexo na terceira idade ou seja, tesão. Sei que hoje em dia tudo é possível, mas ao menos para os casais beijoqueiros, transparece, ao dançarem, a timidez expressa em seus corpos afastados do par. A dúvida voltou a assaltar-me. Será que há dança suficiente que liberte – ao apagar das luzes do salão – a vontade de fazer amor como quando jovens e aptos? Os sinais físicos do envelhecimento sugerem o ato do esquecimento e a perda natural do tesão.
A questão que proponho aqui não é a questão estética dos mais velhos dançando, beijando, alongando-se ou fazendo amor.
O marketing torna a velhice um produto transformando-a em uma caricatura de si mesma. É melancólico ter que ser ensinado e aprender a ser velho! Já aprendemos a envelhecer ao nascer!
Será que, se amanhã eu me matricular numa escola de dança para velhos, não esqueceria qual era para ser o tema de hoje da minha crônica?
Estou consigo. É como agora dizerem que a idade é uma questão de número! Questão de número uma ova! Chegar aos 70 e começar a doer aqui e ali, a cabeça a falhar e mais umas quantas coisas… é uma questão de número, dizem-nos…. vão se matar.
Primeiramente muito obrigado por ter chegado até o Tango.
Para mim, um alento para continuar.
Concordo em gênero e numero consigo: somos números
desde que nascemos após 9 meses de gestação.
Escrevo muito sobre o tema porque sou da geração de 45.
Sem duvida, doe tudo e principalmente as memórias de alguma
tristeza mas, não digo que a gente supere o sofrimento, mas as vezes
consegue repor com esperança pelo fato apenas de estar vivo e tentar a cada dia viver
o melhor possível daquele dia.
Tenho tentado com um sucesso razoável.
Por favor, continue lendo o Legado. Ficaria feliz de compartilhar os números
da vida consigo.
Abraço
Bettina