Este novo texto é para escrever sobre o meu preconceito, é uma retratação sobre o ator e ex-governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger. Assisti ao documentário (Netflix) sobre ele e, impactou-me, a visão de mundo de um homem deveras fora da curva, como dizem.
Ele e eu temos a mesma idade e origem e vivemos os mesmos
eventos ocorridos no século passado até hoje, mas em nada nos parecemos.
Ele foi criado à moda austríaca / alemã, rígida e restritiva, em um lar emocionalmente desequilibrado do pós-guerra, em nada parecido com a minha educação, tanto cultural como afetiva.
Os eventos históricos, hoje classificados como “vintage”, a mim afetaram sobremaneira enquanto para Arnold, aparentemente, decorreram sem causar impacto algum; sua única preocupação e objetivo era preparar-se para ser Mister Universo, o campeonato mundial de fisicultura.
Quando tornou-se conhecido por ser campeão, meu preconceito aflorou virulento. Primeiro pela sua expressão facial – perdoem o politicamente incorreto – um tanto idiota e, além disso, achava este culto ao corpo, (como ainda acho hoje), um absurdo. Julguei a questão estética, o exagero nos treinos, a ausência de qualquer outro interesse a não ser concentrar-se em si mesmo.
Pois bem, este preconceito, ao assistir o documentário, caiu por terra – continuo achando a prática da fisicultura algo incompreensível – mas entendi a razão, especificamente, do Arnold Schwarzenegger ter entregue seu corpo à uma pulsação energética cujo aprendizado disciplinar o levou a realizar sua visão de sucesso pessoal.
Não vou dar spoiler sobre o porquê Arnold se entregou à fisicultura com excessivo empenho, pois esta seria a fundamentação para toda a carreira quase inacreditável que este homem conseguiu amealhar ao longo de sua vida, com estrondoso sucesso, sem um pingo de dúvida sobre si mesmo!
Por outro lado, sua história se mistura e se integra no cenário dos anos 60 a 80 na América: a violência , por um lado, e como se chega ao poder, por outro, em um País livre e escancarado para qualquer forasteiro alcançar certo tipo de sucesso – só compreensível no seio da cultura americana – caso este seja o seu alvo.
O melhor exemplo quanto à violência e ao terror seriam os filmes nos quais Arnold atuou:O Exterminador e o Exterminador 2 – que proibi meus pré-adolescentes filhos de assistir!
O documentário também nos mostra o porquê se vence lá, sabendo percorrer os caminhos pavimentados com tapetes vermelhos para ascender, como republicano, a governador, classificados entre os melhores.
Em qualquer dos três papéis que desempenhou na sua vida, obteve sucesso por conta de uma fórmula suada, digna de um best seller de auto ajuda.
Hoje Arnold Schwarzenegger é um homem que reúne uma experiência de vida transformada, com alguma consciência – tão cara ao público americano: o arrependimento por seus enganos e assédios sexuais.
Iniciei este texto confessando minha retratação a respeito de Arnold e meu profundo preconceito à época. Naqueles tempos odiava a violência do exterminador, defensor do bem – na visão norte-americana de mundo – e que hoje, faz empalidecer os filmes e suas máquinas mortíferas ampliados como artífices do mal.
Não concebia a ideia de que um Mister Universo poderia vir a ser um governador do importante estado da Califórnia apenas por conta de uma risada alegre, bom humor e piadas sem graça e sucessos consecutivos de bilheteria como ator de filmes medíocres.
Seu tamanho em altura e largura descomunal, um rosto cujos ângulos parecem ter sido esculpidos a machadinha, um sorriso largo demais, um andar um tanto paquidérmico dentro de ternos apertados, feriam meu conceito de estética.
Mas não é que foi o mais bem votado?
Tal proeza definiu, à época, meu pré-conceito de que o americano é um povo carente que vota em líderes criados com e para preencher o sonho americano de ser: livre, rico, ”bonito” – inteligente não sendo um pré-requisito- e, sobretudo, aquele que atingiu o pico mais alto de sucesso possível em uma sociedade hiper competitiva como a americana. E, além de todos estes quesitos, ainda é o pai amoroso, ao lado da esposa ideal. Meu preconceito resvalava na crença de que a sociedade americana era de conformação postiça, pasteurizada, com gosto de marshmallow.
Sem dúvida, Arnold foi e ainda é o homem certo no lugar certo!
Cinco décadas depois desta minha avaliação, entendi que o preconceito se veste de julgamentos infundados, gratuitos por não conhecermos os fatos por detrás não só da vestimenta das pessoas como de países que desconhecemos.
No final do documentário sobre este homem tão singular, confirmei minha tese na capacidade de todo ser humano transformar-se e praticar suas crenças e valores enquanto constrói seu próprio destino.
Palmas finais para o espetáculo, surpreendente, que nos oferece a vida de Arnold Schwarzenegger.