Como de hábito, só ando de táxi. Tão mais confortáveis, sempre no ponto! Um carro a menos, penso, nessa metrópole onde o tempo foge ao meu olhar. A cada dia preciso ver algo de novo. Muitas vezes, por falta de assunto, imagino que vi; outras vi e imagino uma história por trás do que vi.
Ontem, passando pela Av. Sumaré, vi um facho de luz, um brilho desconhecido, ao lado de um mendigo. Será ele um iluminado lavando sua roupa à beira da avenida? Foi meu primeiro pensamento. Serão marcianos, invisíveis, munidos de uma lanterna brilhante?
Não, não pode ser! Um recipiente cristalino piscando nos vãos da fumaça dos carros? Meu olhar fixa uma mancha de cor azul. A água límpida por inteiro, dentro de um balde translúcido. Uma garrafa pet cortada? Não, elas são verdes ou opacas, além de estreitas para se lavar uma roupa.
O táxi seguiu e eu passei o dia ocupada com o pensamento: que recipiente seria aquele? Mas não importa o recipiente. Vi um mendigo lavando sua roupa, na sua casa feita de avenida.
Era a miséria de uma roupa dentro de um copo de cristal.