Cortinas e colchas de quartos de hotel são os marcos que identificam a circulação de muitas pessoas pelo mesmo espaço. A sensação é a de que cada uma que ali pernoitou levou um pouco da vida delas consigo. Sem dono, mesmo no mais luxuoso hotel, as cortinas e colchas parecem sempre velhas e abandonadas. Murchas! São elas as testemunhas dos segredos que ali se desenrolaram. Sentimos como se o quarto sempre nos pertenceu porque nossas coisas espalhadas enganam a razão.
O que o quarto não sabe é que na lembrança ele continuará sempre nosso.
Em uma destas estadias de passagem, tive uma noite insone.
As trevas se esparramavam mais escuras do que a escuridão ao cerrar os olhos na tentativa de dormir. Minha visão, porém, não queria descansar. Clara como a luz do dia, insinuava-se buscando espelhar a solidão de todos que ali pernoitaram. A minha foi se tornando aguda! Transfigurou-se em dor e foi assim que uma lágrima grossa molhou o travesseiro, alagando o meu coração.
Não quero secá-la. Sentir a terra sempre úmida me dá a noção de que existo.
A dois, a dor se soma e se resume.