Dumbo, o elefante, personagem tão querido – fofo dizem hoje – faz a criança chorar saudavelmente quando perde a mãe, mas, em contrapartida, ganha um amigo que o ensina a voar.
Transforma a tragédia – por conta de suas enormes orelhas – em uma façanha sem igual no mundo fantástico da imaginação.
Existe algo mais instrutivo e sensível para uma criança aprender do que transformar uma particularidade física em sucesso? Encontrar amizade em trocas com seres diferentes?
Hoje o desenho do pobre Dumbo é execrado como sendo de conteúdo racista ou ofensivo. Diz o artigo de jornal: “pode conter representações culturais desatualizadas”. A razão para tal descalabro é que os corvos do desenho animado Dumbo, ”encarnam estereótipos de afro-americanos”.
Meus filhos são da geração anterior a Y, hoje adultos responsáveis e , sobretudo, tolerantes , mas quando crianças só assistiam a filmes de Walt Disney. Nem por isso deixaram de ter uma cabeça ótima, todos terminaram seus estudos com acesso a conhecimentos e discussões acessórias objetivando tornarem-se cidadãos críticos, com discernimento para o certo e o não certo.
Os corvos!! esses pássaros de cor preta, presente nos contos de fadas dos irmãos Grimm ou Christian Andersen, pousados ou volteando em planícies geladas da Europa, introduzem no imaginário infantil a representação da morte, a meu ver um conceito sadio para dar à criança um sentido de realidade. Talvez Walt Disney tenha pensado o mesmo.
Em 1941, época da produção do Dumbo, nos EUA, os negros eram segregados e por tal razão a Warner Bros avisa hoje antes de começar um filme de Walt Disney : “Eles podem representar alguns preconceitos comuns à época. Estavam errados na época e estão errados hoje.”
Entram nessa categoria o Peter Pan – seria a representação caluniosa para gay? – Mogli, O Menino Lobo – seriam os macacos alusão a negros ? – O Rei Leão – por que as hienas riem debochado? No filme a Dama e o Vagabundo aparecem gatos siameses que poderiam retratar estereótipos asiáticos , no remake não são mais gatos orientais…. O gato vira-lata , por exemplo, seria um insulto ao pobre que vira o lixo para se alimentar?
Mas este hoje da Warner Bros está totalmente enganado. Estamos sufocados , voltando à era da escuridão. Não pode ser considerada racista a representação de um animal de cor preta que voa. Ser racista é ser intolerante para com Negros, humanos com pele negra.
Corvos, macacos, gatos, hienas e mais todas as representações do reino animal podem se tornar politicamente incorretas a continuar o monitoramento de nossas mentes e critérios, na verdade uma censura. O garotinho ridículo, vestido de verde e que vem da Terra do Nunca, está claro, não existe na vida real.
Era previsível esta censura ser fato quando se iniciou a bravata inconsequente entre o politicamente correto e incorreto. A ambivalência destes conceitos está absorvendo um tempo demasiado em conversas inúteis. Espero nos aperceber que estamos acumulando ignorância a cada dia.
Paulatinamente, subtraímos o senso comum e o livre arbítrio desta geração que está nascendo (seria a Z). No lugar de dar início a inéditos horizontes, estamos estreitando-os, colocando limites, tirando-lhes o direito de pensar por conta própria e julgar por si sós.