Olhando pela janela do táxi, – ótimo lugar de se estar com o celular desligado – pensava sobre a tristeza.Um sentimento que não deixa a cidade cinza, nem a natureza menos sublime, ao contrário, as cores tornam-se mais vivas porque reais assim como a tristeza. A tristeza chega desossada de expectativas. É mais potente do que as boas e más lembranças nostálgicas ou… nenhuma.
Eis que irrompo o fluxo da sensação e subitamente indico para o taxi encostar na primeira vaga. No correr da vista li o seguinte escrito na porta de entrada de uma loja:
se você é
racista
sexista ou
homofóbico,
por favor,
não entre.
A forma como estava escrita lembrava a de um poeminha. Mas não era. Queria dizer, exatamente, sem poesia, para qualquer passante que não se considera racista, sexista ou homofóbico: ”você é uma pessoa não grata neste local.”
No minuto recuperei-me do inédito absoluto. Nunca cogitei que chegaria um dia a ser barrada por uma porta de entrada envidraçada de uma loja, na vitrine sapatos e adereços para mulheres, na Rua da Consolação número 3119, Jardim Paulista.
Engano-me, sim, vi fotos de lojas, na Alemanha Nazista, com os dizeres “proibido para judeus”!
Não ousei entrar, por não saber o que me aguardava uma vez lá dentro.
Percebi despontar a raiz da Intolerância que se fez ouvir:
“que peito! Com qual direito me definem, a priori, que não sou racista, sexista, homofóbica. Que preconceito é este que me define como dentro das três categorias se adentrar na loja? “
Pedi para o táxi parar e tirei a foto para não passar por mentirosa.
Uma intolerância ingênua estampada? Jogada de marketing?
Senti-me agredida explicitamente com raiva dos racistas, sexistas, homofóbicos: se não for entre, se for não entre!
Tenuamente resistente, mais subjugada pela inconveniência do barulho que a minoria sexual de qualquer gênero ou preferencia é capaz de produzir em suas manifestações pró igualdade de qualquer coisa, sem mais limites, pergunto-me: se a minoria tornar-se maioria, será um mundo de igualdade e tolerância para o que é diferente? Gosto de ficção cientifica, mas não sou futuróloga!
Temo sim pela invasão eletrônica adentrar de vez na minha intimidade – Huxley em seu 1984 já o predisse – obrigando-me a confessar quais minhas crenças, valores, costurando a minha preferencia sexual na lapela indicando que sou uma excluída do convívio social por ser” diferente” dos racistas, sexitas, homofóbicos. Esse poder e comando a História coleciona “bons” exemplos!
A teoria da causa destas formas múltiplas e categorizadas de ser sempre tiveram a ver com consequências, em geral, pouco conhecidas.
Gostaria de um dia não ser obrigada a protestar ao ter que defender os meus direitos com a mesma virulência dos que pensam diferente de mim. Mas, desconfio que o medo me protege de tomar em armas. Sou covarde?
A mensagem colada à vitrine de qualquer loja é um ato anti-civilizatório, belicoso e não o considero uma chamada de marketing. Considero abuso de direito e por conseguinte, intolerante.
A tristeza sobre a qual refletia, com os dizeres lidos, refletiu em cheio sobre ela!
“Queria dizer, exatamente, sem poesia, para qualquer passante que não se considera racista, sexista ou homofóbico: ”você é uma pessoa não grata neste local.”
Olá, produção! Descuido da revisão ? Ou a Sra. filósofa não entendeu o texto da vitrine ? que tristeza, mon Dieu,que tão triste este cinza contemporâneo.
Prezado José Antonio,
Agradeço seu comentário tao importante para mim. Ouvir e aceitar interpretações outras
sobre qq. assunto que seja, é a maneira de reconhecer seus enganos ou acertos na formação de
suas crenças e valores. abraço.
Esqueceu só que Huxley escreveu foi Admirável Mundo Novo, e Orwell 1984.
Marco Antonio,
desculpe pelo atraso ao nao responder ao seu comentário.
Agradeço a correção. Corrija-me sempre que necessário. É como
se aprende quem sabe mais. abraço