Ando de táxi na cidade de São Paulo. Fiz as contas e sai mais barato. Além de não ter despesa com o IPVA e demais obrigações, ganho a amortização do carro ao longo do tempo.
Mas o que ganho mesmo é a liberdade de olhar para fora da janela do táxi.
Hoje passei pelo cemitério da Dr. Arnaldo. Meu olhar dividiu-se entre o muro do cemitério, as bancas de flores, as cruzes e as imagens que adornam os túmulos.
Fosse fotógrafa revelaria as cruzes em cor e as bancas em preto e branco. Fugazmente pensei nas palavras do padre quando diz….” Na alegria e na tristeza” na cerimônia do casamento. Pensei na morte e na vida. Voltei para o trânsito e olhei relógio: atrasada para o compromisso.!
A idéia de não mais existir, de estar enterrada, aliviou a tensão quanto à minha falta de pontualidade, não só para este compromisso como para todos os outros com hora marcada.
“- Não há nem mais tempo para se morrer”!
A finitude aproxima-se a cada atraso, cada atraso como se fosse o último.
Encerro este momento reflexivo quando o farol abre e avançamos, o motorista e eu, para o endereço que indiquei.
” Sou ainda muito jovem para pensar em morte com hora marcada”!
Mas, e se eu atrasar, ganharei mais tempo?
Prezada Bettina (permita-me!),
Adorei o texto,,,tudo a ver comigo! Quando adolescente tive minha fase ”Augusto dos Anjos”…muito me lembrou!. Sinto que, por ter me afastado dos livros que tanto prazer me davam e deixado o Brasil hah muitas dehcadas, meu portugues ficou confuso, deixando muito a desejar. Espero fazer-me entender.
Voce eh uma mulher linda e, mesmo desconhecendo sua profissao e pouco conhecendo seu trabalho literario, percebo uma profundidade sem igual no seu olhar que parece ter muito a ver com a sensibilidade que em palavras coloca e com as quais me identifico. Infelizmente, nohs ”jovens” nao temos tempo para a morte mas ela continua tendo tempo para nohs! E, penso, precisamos “ganhar tempo, sem atraso” porque ela nao manda aviso previo e nao se deixa anunciar!