Começo assim, – antigamente – há 50 anos atrás, quando eu ainda era uma mulher bonita e atraente…
Dizem, hoje, que não pareço ter a minha idade. Talvez porque não estou preocupada com ela, mas sim com a minha memória e presença no mundo que vem mudando, sem parar, de lá para cá.
Chego até cá percebendo que o século XXI não é só dos jovens. É meu igualmente, mesmo tendo sido criada no XX. Verdade que algumas mulheres bonitas e atraentes da minha época lá estacionaram. Não sei se felizes ou não, mas, com certeza, a grande maioria mais preocupada em se manter jovem “por fora” do que eu com minhas rugas, olheiras, pouco cabelo, tentando decifrar o meu lugar no Novo Mundo. Não me refiro ao descobrimento da América nem tampouco ao livro de Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo. Gosto de pensar que o mundo novo da informação, ao leve toque do dedo indicador, traz qualquer tipo de informação que preciso. (Há pouco, quando mencionei Huxley, não sabia se seu nome escrevia-se com a ou com u. Passei para o Google e soube no instante que é com u. Descobri também que eu completava 18 anos quando ele morreu ao sua esposa lhe injetar uma overdose de LSD, a seu pedido, em 1963 . Não parei de envelhecer desde a morte de Aldous Huxley!
Sou uma mulher +: (mais de 50 anos). Difícil juntar a coragem e encarar de frente o espelho. Consolo-me porque tento, dia sim dia não, dirigir meus pensamentos enrugados para o Tempo e sua Finitude.
É conhecido que mulheres, desde a remota idade, desejam permanecer jovens até o fim de suas vidas. Já os homens parecem mais conformados com as rugas bem portadas e o corpo desculpável em seu desarranjo por conta da lei da gravidade. Estes são mais inteligentes que aqueles com idade + que se aproximam de moças – idade, na maioria visivelmente já passados pela maca do cirurgião plástico.
Contudo, nos espaços públicos por onde circulam pessoas de todos os tipos, origens e estaturas, observo que são as mulheres + que perscrutam outras mulheres + com as quais cruzam na busca de reconhecerem-se a si próprias. Basta um olhar, olho no olho, dois segundos e eis que cada uma pensa:” está ela melhor do que eu”? Um único olhar pergunta, julga e sentencia. Com um único piscar de olhos, analisa as rugas espalhadas entre o pescoço, em torno da boca, e a barra de código acima dos lábios. No segundo momento que ainda tem disponível até a outra desaparecer de sua vista, analisa o corpo: é gorda ou magra? Continua seu trajeto com uma imagem clara do conjunto e rapidamente decide se a outra é ou parece mais velha do que ela; a resposta nem sempre chega clara nem definida e é logo esquecida até cruzar com outra mulher +.
Confesso que faço o mesmo. Um hábito!
Acredito que envelhecer sem plásticas faz ver, aquele que nos olha, como já fomos um dia. Sempre há algo de não envelhecido, algo que permaneceu carimbado em nosso rosto, uma característica. Será a cor dos olhos, uma expressão, um olhar, um sorriso, risada, mesmo uma tristeza. As visivelmente operadas, acho serem elas mais fácil de identificar como mais velhas pois, pela lógica, por que fariam plástica senão para parecer mais jovens?
Carregar a verdade do tempo é um ato civilizado, uma virtude hoje em dia. Transparecer a real idade é um privilégio digno de respeito. Não é nada fácil!
Aos homens, o mesmo destino!
Eis meu grito feminista de liberdade!
Plenamente identificada.