A Rede foi criada para aproximar pessoas, globalizar os costumes, abolir o tempo lento, mas apoderou-se do feitiço contra o feiticeiro.
Lembro quando criança de uma brincadeira conhecida como telefone sem fio. Construíamos um telefone com duas latas e um fio preso em cada ponta. Minha vizinha da janela da sua casa e eu na minha falávamos dentro da lata e depois colocávamos ao ouvido para escutar a resposta. Um fio nos ligava!
A Rede está por um fio! Ela vem se desfiando e no processo cria furos aqui e ali. Os dois pontos que se ligavam, como na minha infância, não mais se comunicam; o fio está se necrosando como o sal do mar faz com as redes dos pescadores.
O século XXI não mais se comunica com o XX. Estamos perdendo o fio da meada ao desaprender o que já foi experimentado. A inspiração heroica e realizações de lideres não mais dependem da literatura, mas de conclusões encima da hora. O computador dispensa a construção de uma filosofia de vida e de mundo; não mais individualiza o conhecimento. Sumiram as mensagens na garrafa, poesia que chegava na crista da onda. Indiscreto, interveniente, o poder centralizador do computador conta somente a história que desejamos ouvir no agora. O espírito do conflito é deletado da função reflexiva. Os momentos ocorrem, mas não geram mais consequências: geram a noticia do fato. Trocou-se o Universal intangível pelo Global mágico que logo mais poderá ser acessível com o pensamento.
Paira um vazio entre o fio e as duas latas.
** Este texto é inspirado na leitura do livro de Zygmunt Bauman, “A Vida Liquida”