Eu queria ouvi-lo e o ouvi, como uma criança de poucos anos ouve em seu pequeno coração que cresce em solitária paz. Foi dentro da Igreja do meu colégio que aprendi a falar comigo mesma. Durante a missa, meu olhar vagava por entre os santos e como o calvário de Cristo não me doía, eu acompanhava cada etapa da sua via-crúcis nos quadros de vidro colorido. O feixe de brilho luminoso, projetado no chão de mármore da Igreja, inspirava o sagrado para dentro de mim. As imagens de madeira não me causavam medo e o ouro, nenhuma resplandecência. Observava atentamente o olhar dos santos para ver se me fixavam em resposta ou, se seus olhos, duas contas pretas brilhantes, acompanhavam os meus. O olhar estático das Nossas Senhoras dava uma pausa à minha alma agitada. Perscrutava o mistério e aguardava o momento seguinte: não havia susto, ele era igual sempre.
Gostava da liturgia, da roupa branca engomada do padre, da renda na manga quando santificava a hóstia. O castiçal dourado e a toalhinha de linho que usava para secar o copo. A limpeza que dele emanava me fazia ver um espectro de luz. Este halo preenchia os pedidos que eu me induzia a desejar. Talvez o abraço do sagrado seja a materialidade de que tanto precisamos para nos proteger de pensamentos sem respostas. Eu não sabia que um dia se crescia. Tampouco que se morria. (Como morrer, se sequer eu existia para mim?). Como Deus sabia da minha existência, eu não precisava saber por que eu existia. Amar a Deus era lúdico, viver era absoluto.