“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”.
Clarice Lispector
A Inteligência artificial – criada sabe Deus por quem – possivelmente, subjacente ao seu provável sucesso, tem por objetivo livrar o humano do sofrimento, fazê-lo desaprender a sofrer. Mas, paradoxalmente, acredito que, caso ele deixar de sofrer, também não estará vivo.
Somente os seres humanos sofrem e com a dor percebem-se vivos, caso contrário, vagariam por aí como zumbis, vazios, a alma esburacada, desconexa do universo.
“Ela”, não deixa de ser a cruza entre a memória do conhecimento e a tecnologia eletrônica. Não nos foi entregue – ainda – a régua para medir as consequências quando em pleno uso.
Não tenho medo, nem por mim, nem pelos meus trinetos. Estou intrigada, nada mais.
Qual a razão para sua existência? Será que alguns Professores Pardais, buscam provar que a “mente” programada é ilimitada, capaz de receber informações, processá-las algoritmicamente, demonstrando assim que nossas mentes foram desqualificadas para formular as perguntas e respostas exigidas?
Será que as inúmeras gerações à frente concluirão que no século XXI nossa mente era absolutamente limitada?
Concluo, o pouco ou tudo que soubemos absorver nesta vida está rapidamente se tornando obsoleto, sem mais serventia. O que aprendemos com sofrimento, apenas serve para nós mesmos. Mantemos o que se tornou disponível para o uso exclusivamente pessoal.
Pessoalmente:
- não busco mais o indisponível, ou seja, o reconhecimento de que o algoritmo me substituirá um dia. Enquanto viva não aceito morrer antes do tempo!
- entendo que o algoritmo, seja lá o que for esta “coisa”, será, ou já é, algo como uma cópia muito melhorada de mim mesma.
- Cuido para não cair no ceticismo de que somos uma espécie em extinção.
Meu coração ainda serve para gostar, festejar, ser mãe e avó, sentir vontade e esperança e aí está, igualmente, para sentir raiva, desprezo e indiferença. Ele pontua os momentos de desejo possíveis de serem vivenciados. A consciência da minha alma, por sua vez, ainda indaga a permanente dúvida: Deus existe?