Ele tem uns ”oio engatinhado, assim ó” disse Mineirinho. O que ele queria expressar era que seu colega tinha um olho puxado como o gato ou um oriental tentando me demonstrar como era o pedreiro, seu compadre, que ele queria encaixar na minha obra como seu ajudante.
Meu mau humor crescia a medida que a obra decrescia tanto em eficiência quanto a minha conta bancária. Eu estava tentando contratar um puxador de entulho que se acumulava comparável ao monte Everest em altura.
Nem a singeleza de Mineirinho, um homem magro de força descomunal, a contar histórias inverossímeis, o jeito de puxar os inho e os ãos melodiosos do pessoal de Minas, faziam com que eu renovasse a esperança de terminar a reforma da casa, um dia. Meu mau humor só fazia piorar a medida que as paredes que deveriam permanecer eram demolidas e as que na planta mostravam que tinham que ser removidas ficavam. Atrás da resposta do porque, dou uma olhada na planta na qual o mestre se baseava e percebo que ele está seguindo um desenho antigo. Deste para o atual, já haviam acontecido duas mudanças há um mês atrás. Perguntei porque trabalhava com aquela e não a atualizada do arquiteto. Respondeu:” o João não me passou nenhuma nova”! Como assim? “Obra é assim mesmo dona”! Eu é que sofro aqui. Eles ( os responsáveis) não dizem nada e eu é que levo a bronca, a sra. nem queira saber”! E não queria mesmo.
Meu mau humor continuava se empilhando como o entulho lá fora quando fui saber do pintor se já havia pintado a janela. “Não senhora, a senhora não disse que cor queria”!
Será que eu não disse? Pensei. Não é possível, até deixei por escrito, será que ele sabe ler? Sentindo-me culpada pela falha que não cometi, deixei o pintor e a janela porque desde o inicio desta aventura insana, a minha vontade era jogar todas as tintas, uma de cada cor, na cabeça dele.
Um amigo alertou-me para que eu me controlasse pois corria perigo de vida se continuasse de mau humor. Contou a história da mulher que tanto reclamava que levou uma marmoreada do marmorista na cabeça e morreu.
Impossível controlar-se! Como é possível que não haja um responsável quando a partilha de cimento – pago – endurece porque fora esquecido na chuva ou porque o sifão da pia pinga sobre o assoalho recém acabado porque o encanador esqueceu de vedá-lo? E quando o eletricista responde que não pode vir terminar o serviço da cozinha apesar de combinadíssimo – porque o chamaram em outra obra, deixando assim , na mão, literalmente, o marceneiro, o colocador da bancada e o encanador a espera para terminarem a cozinha.
Mas lembro: “assim é dona”! e deixo a obra, não mais de mau humor mas com o coração pesaroso por não entender porque minha reforma engatinha como os olhos do amigo do Mineirinho.