Não defendo ou condeno o feminismo (que coisa antiga!), mas confesso-me sem espaço para emitir o quê e porquê penso, sem que isso seja considerado correto ou incorreto. Acho que o “correto” em confronto com “o não correto” tem levado o pensamento ocidental para um beco sem saída. Incita a extremismos, à intolerância para conviver com o diferente pensar do Outro.
A polêmica entre ambos os conceitos é superficial e ineficaz se pensarmos em progressividade histórica. A meu ver, nesta polêmica não existe o pensamento, nem o correto nem o incorreto: não existe o Pensamento! Poderíamos definir como mais uma moda em rodas e redes sociais que aparece e desaparece, mas não é. Dizem respeito aos absolutos conceitos de Liberdade, Individualismo e Limites, portanto a existência do conflito é bem mais complexa e tem sido muito mais duradoura do que uma simples moda.
Divergências de pensamentos sobre tópicos antagônicos, ambivalências ou contraditórios é um fato histórico ao longo das Guerras das Civilizações. Contudo, o século XXI, nasce sob a hegemonia expandida e teórica do ACHISMO: todos acham, inclusive eu: acho ser este um dos resultados do excesso de informação leviana.
Sete bilhões de pessoas (ou bem menos) têm a liberdade e direito de achar qualquer coisa sobre qualquer coisa. O Achismo não sobrevive em países onde o Estado dita o que achar ou não. Por outro lado, além dos temas em pauta não mudarem desde tempos idos, eles mudam e se transformam muito mais lentamente do que os achismos da hora, tanto assim que minutos depois de achar algo, ninguém mais lembra qual foi a questão.
Ninguém deixará de dar vivas para a comunicação irrestrita contemporânea – e os não possuidores de tal regalia por isso lutam – mesmo se ela espalha o conhecimento de bobagens e não bobagens. Mas incomodo-me com as caras julgadoras na simples menção dos substantivos: pobre, negro, índio, gay, empregado, transexual, palestino, imigrante e outras tantas minorias como o rico, por exemplo. A expressão do meu interlocutor é taxativa: você não é politicamente correta seguido da conclusão: é de direita (outro palavrão!).
A minha indagação aqui é: até quando vamos suportar esta poluição de achismos? Estamos sufocados por contradições altissonantes que afetam os nervos sem trégua. Reclamamos do cansaço, diariamente. Fugir? Para onde? Talvez os nossos ancestrais, os três macacos, já tivessem razão: não ver, não escutar, não falar. Poderíamos inverter a teoria Darwiniana ou ainda radicalizar o individualismo do “este problema é seu” traduzindo o interessante moto: Me I and myself!
Esta tendência não é um privilégio brasileiro, é global. Por isso mesmo deveríamos nos impor reflexão sobre para qual lugar estamos nos encaminhando como consequência do julgamento dicotômico e imperativo entre o que é politicamente correto e o que não é. Penso que o resultado desta teoria, vazia de sentido, já viceja no patrulhamento, na radicalização política, na violência social em massa, na tendência centralizadora de poder e controle do Estado. O pensamento tacanho, pobre, do que é certo e errado, incita cada vez mais, ações de intolerância a gêneros, cor, religião, modos de viver. Mudanças reais obrigam a Justiça e a Religião, ambas lentas, a buscar novos valores e interpretar novos hábitos; a encontrar conceitos definidores do que é Ordem , Liberdade e os seus Limites como nova fronteira. A Humanidade precisa de seu Tempo para mudar. Um tempo que sentimos não termos mais. Temos muita pressa. E quanto mais pressa mais impreciso fica o quê e como queremos mudar!
Gostaria que etnia, cor, credo já estivessem inseridos em todas as grandes e pequenas civilizações. Infelizmente, este desejo genuíno, espontâneo, assim como um mundo sem pobres, é uma ideologia romântica, utópica. Duras foram as lutas e revoluções onde milhares encontraram a morte na rua e ou em calabouços com pouquíssimos resultados efetivos, reais, basta avaliar os dias de hoje.
Os Direitos Humanos são de direito de todos e, nesse caminho não tem o certo ou o errado. Tem o Direito! Eu não quero me sentir excluída por conta da intolerância de pessoas que, em nome dos direitos individuais e tolerância, me ameaçam e agridem. Estes deveriam sentar em praça pública e, como os gregos no séc. AC, ensinar para o povo os fundamentos da Ética e Moral e infundir a noção de que o tempo tem o seu Tempo e refletir sobre isso. Mas, somos preguiçosos quando se trata de buscar alguma verdade absoluta. Não somos humildes como os deuses gostariam que fôssemos! Incertos e inseguros sobre o nosso amanhã, nos preenchemos, ânimos armados, com disputas inglórias. Temos dificuldade de conviver com o que difere de nós porque nos achamos sempre bonzinhos e com a razão do nosso lado e, por assim sermos, não temos coragem de olhar para o mal que nos habita: A Inveja!
Quem pode afirmar que a Inveja não é a má madrasta da Intolerância?
Quem nos diz que não invejamos a liberdade do índio por nadar pelado no rio, o herói negro dos Palmares, a coragem do gay ao assumir a sua opção ou as minorias que evocam e mobilizam profunda pena e caridade em nós fazendo que assim nos sentimos pessoas caridosas, melhores do que somos? Inveja do rico porque pode ter tudo que deseja e eu não? Será que não temos inveja daquele que luta, – em detrimento de si próprio – por uma causa ideal: a da Justiça e Igualdade? Será que não temos inveja da sua fé? Porque ele acredita, com fé, no que seria bom? Será que não é inveja de perseguir povos e culturas inteiras por serem estas mais sábias, ou mais instruídas, ou seus habitantes obterem mais resultado e assim serem mais felizes?
Acho que aquele que fica brigando sobre o que é politicamente correto ou não, perde a oportunidade de pensar e assim ter o prazer de enxergar ângulos diferentes da mesma questão. Ele não passa de um intolerante de etiqueta social que só contribui para o progresso da pequenina visão de mundo que o rodeia.