Viramos adubo para consumo!
Sim, exatamente o que vocês acabaram de ler!
Sim, vamos adubar as hortas orgânicas daqueles que sobreviverão a nós, já defuntos.
Sim, nossos ossos, órgãos, pele, cabelo, tudo que já fomos um dia, será um fertilizante não tóxico.
Sim, descobriu-se que nosso cadáver tem serventia para o futuro superpopuloso planeta terra.
Sim, vamos re-florescer sob a forma auspiciosa de chuchus, laranjas, milhos, cerejas.
Sim, estaremos presentes em todo prato de arroz e feijão do brasileiro.
Sim, ironicamente, um dia nossa carcaça alimentará um mundo devastado pela nossa própria mão, a mão do Homo Sapiens, a mão destrutiva do Homem.
Sim, seremos comidos por pessoas. Não, não são canibais. São pessoas com direito a saciar a sua fome.
Sim, nada somos. Do pó viemos e ao pó voltaremos.
Assustaram? Eu também!
A notícia chegou com o título “Compostagem Humana” e levou-me a criar estas imagens, para mim, até hoje, inimagináveis.
O processo da utilização dos nossos restos pessoais não está em fase de experimentação; não! Já está acontecendo em países onde “antigamente” pessoas eram enterradas e, mais recentemente, cremadas e entregues aos viventes em urnas cujas cinzas permanecerão em algum lugar junto à natureza. Muitos optam por ser arremessados em águas correntes e assim desaparecer sob a face da terra. Porém… estes desejos não serão mais realizáveis porque seremos regados, isto sim, todos os dias, para que as frutas e flores floresçam mais sadias e bonitas.
Tentemos imaginar como este fato – ou adubo – em curso é produzido segundo um agente funerário:
“Seremos colocados em uma caixa de aço, por cima do nosso corpo jogarão, em grande quantidade, serragem, alfafa, palha e que tais. O caixão é colocado em uma câmera a 50 graus cujo calor acelera a profusão de micro organismos que portávamos quando em vida. Em decomposição, esta massa é revirada e em um mês, aberta a caixa de aço, serão retiradas as obturações, marca passos, próteses etc.
Em mais 30 dias nos tornaremos 38 sacos de terra orgânica!”,
Simples assim!
Após a leitura, senti meu coração duvidoso dar uma batida a mais e, por imaginar que tenho uma alma, arrepiei-me toda. Em seguida pensei nas várias crenças, no culto judaico onde a cremação é proibida, na católica cuja alma vai de encontro a Deus e, conforme for, passa pelo purgatório onde é decidido se sobe ao céu ou desce para o inferno. Pensei nas tradições de povos asiáticos, de povos ancestrais e vi chamas de fogo como sendo o ritual de purificação.
O desejo que se apossou de meus envelhecidos ossos, porém, foi ser uma rainha guerreira viking dos tempos mais remotos que, depois de morta, é colocada em uma balsa, ateiam fogo e empurram-na para o mar aberto. Ela navegará até o Valhalla e será então acolhida pelos deuses.
Mas não sou uma viking. Sou uma simples mortal criada no berço da cultura judaico-crista e suas crenças impregnadas de valores morais. Sou uma mortal que passa algum tempo livre pensando em seu fim e para onde gostaria que sua alma fosse , se ela existir.
Não me agrada a ideia de virar adubo. Ainda estou me acostumando à moda vegana como meio de sobreviver por mais tempo do que os carnívoros.
Sim, estou convicta que devemos ser verdes nas ações e cuidadosos com o que resta da natureza e as mudanças climáticas, entretanto não estou pronta para virar uma abobrinha verde listrada e ser engolida por algum glutão de passagem por aqui como eu já fui um dia!