Em 10 dias percebi meu passado escorregando para o Além!
Conhecidos, amigos, não tão amigos, amigos de amigos, chefes, pessoas importantes desconhecidas, mesmo pessoas cujo rosto me é vagamente familiar, outros que consigo nomear, morreram nos últimos 10 dias. Nestes dias que se passaram tive a vazia sensação que toda uma geração “sumiu do mapa”, como dizem. Do meu convívio diário!
É a geração dos anos 40, pessoas hoje entre 70 e 90 anos que estão sendo enterradas. Viveram no pós-guerra. No capitalismo desenfreado, no conservadorismo, no comunismo. Do homem pisar na Lua até aterrissar em Marte.
Não há espaço aqui para mencionar o progresso das nações, as mutações ocorridas em nome de ideais, teorias sobre saúde mental, física e sexual, avanços na área financeira, liberdade nas relações afetivas, a inimaginável inserção social de gêneros, no aumento da pobreza, nos direitos trabalhistas. (Foram tantas as mudanças que aqui cabe um etc.).
A transformação começou lenta para a geração 40, acelerando-se, num crescendo, à medida que os meios de comunicação foram chegando, hoje, a um ponto, que esta geração antiga não consegue ou se recusa acompanhar. Esta geração, de um modo geral, saudosa do século XX, conhecido como a do “bem viver,” enaltece, mais do que qualquer outro tema, a educação das pessoas. Grande parte, não importa a sua classe social, saudosa, reclama do jeito que são obrigados a se adaptar para viver o presente. Por outro lado, desejam usufruir de uma vida mais libertária, obrigam-se a dançar e fazer mais ginástica, comunicam-se com pessoas variadas inscrevendo-se em cursos de política contemporânea, arte, história. Viúvos (as), separados (as) entregam-se com bem menos resistências e preconceitos, às suas libidos como combate à velhice solitária.
É preciso adaptar-se! Não imaginei vir a sentir esta nova sensação: a morte da minha geração!
Uma amiga, com a qual estive, ontem, no velório de sua melhor amiga (termo antigo, mas para sempre verdadeiro), na saída, virou-se para mim, lágrimas grossas saltando dos olhos, lenço de cambraia branco a enxugar as lágrimas, (também antigo costume) e disse:
“Sinto-me traída por Adele morrer “tão cedo”!”
A geração de 40, agora entre 70 e 85 anos, depara-se com a sua própria finitude. Para uns é com medo. Para outros um alívio. E ainda outros, apegados ao ser + na velhice, deixam esta vida com imensa revelia e saudade.
Sim, é uma traição um ente querido ir-se antes de nós! Mas a geração 40 aceita mais este fato da vida como ela é!