Hoje entendi porque os votos de felicidade no dia de seu aniversário chegam acompanhados de “muita saúde”!
Hoje completei 70 anos e acordei doída. Este doído do corpo foi o Tempo que pousou sobre mim ao não conseguir segurá-lo na palma da mão. A sua bruma embalou-me num sonho acordado. Não consegui evitar, mesmo doída, o sentimento de ter vivido pouco.
Hoje chegou a pergunta: por que não sou eterna? Eu achava que sim até quando percebi que o Tempo, como o vento, passa sem incomodar até a hora que se transforma em tormenta e fustiga o corpo. Eu seria perfeita e então eterna se pudesse corrigir enganos, mas não sou.
Hoje acordei sabendo que superei cada dia do Tempo, concorrendo com Ele nos 100 metros rasos. Ganhei porque sei e Ele não, que é o ano que se foi e o numero da idade que aumentou! Assim, hoje dei a partida do jogo da velha: cruz se erro, bolinha se acerto o número de aniversários que ainda vou festejar. Ele não pode ir se reduzindo a datas festivas, marcos no calendário.
Hoje quero sentir o Tempo igual ao tempo em que fui criança, eterna e mimada, eu pertencia a Ele.
Hoje quero o Tempo como o chumbo derretido, sem peso. Quero que Ele perca o seu sentido.
Não quero mais saber quem fui, sou ou vou ser. Não posso mais perder tempo. Aposso-me de mim, sem Tempo nem Espaço para virar ninguém. Quando eu for ninguém o Tempo não vai tirar de mim o meu SER.