Ouço, amiúde, que a vida é dura”! Não há como discordar. Todos nós passamos por processos pessoais e dolorosos. Alguns corajosos vangloriam-se de que “viram a página” e “passam pra outra”!
Transpus tal ditado para uma imagem que me ocorre. Sei que piso em um terreno inesperado, porém conhecido: apesar de chavão, pergunto: lemos a história completa, nas entrelinhas, antes de passar para outra? Não devemos passar sem ter extraído uma inesperada indagação, sem nos perguntar: afinal o que aconteceu comigo? aprendi algo inédito?
Claro que há muitas outras maneiras de se ler e apreender uma leitura. Uns gostam de histórias de final feliz, outros aproveitam conteúdos que ensinam maneiras melhores de se viver; outros escolhem tomar conhecimento da História e Filosofia da Arte. Muitos retiram prazer em ler o que lhes cai na mão como revistas em quadrinhos. E por que não?
Ao invocar a metáfora de virar a página e seguir em frente, penso que as leituras, estas que impactam a nossa vida, são capazes de nos tirar a garantia de que “a vida está ganha” e que tudo sabemos.
Existem tantos textos para nos fazer refletir sobre a razão de viver! Textos que podem ampliar o nosso entendimento sobre nós e a humanidade. Ao ler e seguir em frente como se nada impactasse dentro de nós, não acordamos a nossa Existência neste mundo.
Um livro pode nos contar sobre um sentido de vida ainda não revelado. Manter a inconsciência ao longo da vida, não é sinônimo de felicidade!
Se acrescentarmos a palavra não ao ditado, teremos: “não viro a página e não parto para outra”!
Ao dizer não, sujeito-me a adentrar em um espaço sem beiradas onde uma névoa encobre as minhas pegadas até não ter mais memórias para contar. O terreno é propício para contar histórias de uma memória desconhecida, pois acredito que pisamos em um caminho que tem a marca da nossa ancestralidade. Memórias não mais nossas, como um rio onde se jogou muitos dejetos e que, saturado, foi procurar outro leito, limpo, subterrâneo e invisível. Um lugar para que elas possam sobreviver às minhas memórias insignificantes.