Existem tanto siglas para identificar nossas doenças do corpo quanto na nossa política doente. (Lembro de estrelas no céu).
Não vou parar de escrever para explicá-las. Confio na medicina e suas siglas.
O contrário não acontece com a política exercida pelos 32 partidos incapazes de inspirar confiança.
As siglas , na medicina, descrevem, em inglês, o mal acontecendo. Se elas não forem traduzidas em explicações simples para leigos , corremos o risco de sofrer duas vezes: pelo mal em si ou pela mentira que gostamos de contar para nós mesmos por não querer lidar com o que estamos padecendo; as siglas na política diferem das da medicina porque carecem de sentido e assim não curam o organismo infectado do Paciente Brasil.
Não gostamos do que nos aflige, mas convivemos com o que achamos não ser possível mudar.
Sem ter o que fazer, ao ficar internada por alguns dias no hospital, tive tempo de concluir que duas das maiores preocupações na vida da gente dizem respeito à saúde e à política no nosso país.
Sem as duas, morremos à deriva e no caos. Política e seus partidos, por um lado e medicina por outro, apesar de ambos “siglados”, a diferença é que uma pode nos salvar, a outra nos destruir.
Na área médica, as siglas servem para identificar as doenças e não podemos mudar o diagnóstico. Na política, conseguimos decifrar intenções , mas não conseguimos decifrar, com precisão, qual a doença interna que acomete a multiplicação do vírus, (os partidos) e qual a sua cura. Para o paciente, as siglas podem ter a ressonância de uma morte iminente ou a incapacidade de cuidar da sua vida mental. Na política, a ressonância recai sobre o povo brasileiro, cada dia mais doente com a inconsistência e ignorância do abastado Congresso Nacional. Nos dois casos, nos deprimimos, contudo, o que distingue uma da outra é que a medicina busca salvar através do diagnóstico que a sigla lhe confere, enquanto que a sigla dos partidos doentes não consegue colocar o dedo na ferida infectada.
Na medicina somos diagnosticados por siglas cuspidas nos exaustivos exames e, por exclusão, somos individualizados. As siglas médicas grudam em nós um específico mal. Já as nossas trinta e duas siglas políticas grudam em nós a orfandade coletiva e o desprezo que representam. As siglas políticas são ilhas de má fé explícitas e hipócritas. As da medicina segue o rígido princípio de Hipócrates, na política é regida pelo código da hipocrisia e má fé.
Nos dias em que estive internada em um hospital, tive oportunidade de refletir sobre inclusão social.
Conversei com enfermeiros, atendentes e técnicos de enfermagem em todos os sotaques da língua brasileira de norte a sul, eles cuidam das doenças identificadas por siglas , mas vivem à margem das siglas políticas. Esses brasileiros não precisam de sigla alguma para defini-los; vão se incluindo como podem através da sua vontade e árduo trabalho.
Que país generoso o nosso, com esta população diversificada em cor, cultura, origem e desejo de progredir na vida!
Em suma, um povo laborioso e inabalável em sua confiança em Deus e no futuro!
Uma das histórias que ouvi – geralmente de madrugada, quando os profissionais estão de plantão – foi a de uma mulher, relativamente moça, casada, dois filhos, marido da PM. Saía de lá às sete horas da manhã, ia para casa, descansava, cozinhava e lavava a roupa – era seu dia de folga – para voltar à noite, em outro hospital, para dar plantão novamente.
– “Compramos uma casa e temos que pagá-la. Ganho duas cestas básicas, duas aposentadorias, dois salários. Dá para viver e pagar as contas”.
Perguntei se a casa, na verdade apartamento, era financiada pelo programa Minha casa Minha vida ou nome que o valha.
– “Não! Apresentei o meu salário, responde ela: era o único na época. O banco falou que o valor não poderia cobrir as prestações. Arrumei mais um salário, voltei, e o banco falou que a minha renda era alta e, portanto, eu não tinha o direito ao financiamento.”
O Brasil não é um país pobre. Seus desonrados partidos é que o são, semeando um país errático, injusto e calhorda. Pobres porque semeiam, rotineiramente, a pobreza da ignorância,endêmica, das siglas que representam.
O Brasil é uma criança mal nutrida por conta dos partidos bem nutridos e me espanto a cada dia como seu povo não se ofende por ser tratado por um termo tão genérico e retórico que sobrevive sem um olhar afetivo de reconhecimento e consideração por sua vontade ferrenha de vencer.
Por fim, ao concluir este texto, provo a mim mesma que política e medicina não se encontram apesar da abundância de siglas que as definem. A profunda diferença entre uma e outra é que há siglas que salvam e há siglas que matam!