Acho que a Rede Social, criada para aproximar pessoas, nivelar os costumes, enfraquecer preconceitos e adiantar o tempo, apoderou-se do feitiço contra o feiticeiro.
Lembro ter construído com duas latas e um fio em cada ponta, um telefone. Comunicávamos-nos, minha vizinha e eu, falando para dentro da lata, cada uma da janela de sua casa. Colocada a lata no ouvido esperávamos a resposta. À época, esta brincadeira era chamada de telefone sem fio.
Era um fio que ligava pessoas!
Dois pontos, como na minha infância, não mais se comunicam!
O fio, e seus milhares de conexões, está se esgarçando como o sal do mar faz com as redes dos pescadores, criando furos aqui e ali.
O século XXI resvala no XX, o XIX não mais no XVIII. O fio da meada não reconhece o já experimentado: a garrafa com a mensagem não é resgatada.
A voz do texto pertence a bilhões de pessoas comunicantes, afogadas no mar da informação que não mais liga as consequências ao fato consumado.A Rede Social, indiscreta, interveniente com seu poder centralizador, traz a História sem tradução. Trocamos o Universal intangível pelo Global bem sucedido. Paira um vazio entre o fio e as duas latas.
** Este texto é inspirado na leitura do livro de Zygmunt Bauman,
“A Vida Liquida”