Deveria haver um Ministério da Solidão. Pense um pouco. Tantos Ministérios sem visão de qual futuro esperam os cidadãos que estão nascendo ou engatinhando neste ano de 2019. O que os espera de 2050 a 90? Em 2090 terão a idade que tenho hoje!
Não consigo imaginar absolutamente nada. Meus netos adolescentes talvez já não vivam mais. Serão meus bisnetos. (Bisnetos ainda não caíram tão longe da árvore como se diz! Ainda carregam 12,5% do meu sangue em seus organismos).
Escrito assim branco sobre preto, é assustador!
Deixar de projetar o que pode acontecer daqui a anos, gera angústia, mas apesar do futuro sempre ter sido imprevisível, é necessário planejá-lo, assim mesmo, com um mínimo grau de certeza. No presente momento como convivemos com a sensação contínua de que à nossa volta “as coisas” mudam com uma velocidade – e não sabemos porque – imprevista, ficamos à mercê de um futuro desconhecido e incerto.
Apesar dessa realidade ser fato, há porém ainda a possibilidade de conceber um futuro muito próximo porque comentado a exaustão.
Por que um Ministério da Solidão?
Porque a angústia e a solidão não são novidade, a novidade é tanta gente no mundo sentindo tão profundamente este sentimento de desamparo e abandono. A meu ver seria bom olhar já para essa questão, identificando os cenários prováveis e suas consequências sobre o Ser humano cujo futuro desconhecido não está assim tão distante.
Bezos, o magnata, um dos inventores deste futuro (que nem ele nem nós sabemos se vingará), atualmente trabalha numa cápsula onde o Homem viajará. No lugar de ir de carro para o Guarujá, viajará pelo espaço passando por cidades réplicas de hoje: mas sem chuva, sem terremotos, sem neve ou vento. Irá só, no volante da cápsula como hoje uma pessoa com mais de 18 anos viaja só no seu carro, a diferença será o espaço infinito, somente ele e as estrelas do firmamento.
Mas por que um Ministério da Solidão?
Imagino que seria bom nos debruçarmos sobre o futuro da Solidão na era dos algoritmos. Suposições e consequências concretas e claras não faltam sobre o assunto. O filósofo italiano Giorgio Agamben, em seu livro “Infância e História” diz “todo discurso sobre a experiência deve partir atualmente da constatação de que ela não é mais algo que ainda nos seja dado fazer”. (1978).
Este senhor antecipou o futuro há 40 anos atrás: em frente de nossos computadores, a experiência vai se realizando em fundo branco iluminado! Não a vivemos mais – e me perdoem chamar o “antigamente” em meu socorro – mas não vivemos mais a experiencia como antigamente, ao vivo, sentida no corpo e na pele.
Ouvi dizer que hoje já é possível comprar o alivio para a solidão persistente. São os robôs, única companhia dos solitários que não conseguem resolvê-la de uma maneira humana ou natural.
São bonequinhos, absolutamente desproporcionais à qualquer medida humana, que andam pela casa, – nada de novo – os olhos expressivos, choram, reclamam, falam com o dono, o que também não é uma novidade uma vez que já convivemos com o ajudante do lar que tira pó, usa o aspirador, põe a roupa para lavar. Mas este homúnculo, dorme abraçado ao infeliz dono. Até aqui nada é novidade, minha neta tem uma boneca que faz coco e xixi!
Mas a descoberta dos japoneses é que o boneco responde à solidão do proprietário ao lhe perguntar: por que tanta dor na alma? É quando o “amigo” de prontidão, o boneco, o acarinha com sua mãozinha branca, provavelmente enluvada, beija, se aconchega sob o braço do solitário, emite ondas de calor e faz assim as vezes do ser humano. Não o conheço pessoalmente, mas suspeito que ele deve ter embutido um grau de instrução superior e versar sobre filosofia na tentativa de explicar as diferentes versões de solidão. Talvez até possa criar, ali, com este cliente em potencial, um diálogo psicanalítico do porquê da sua depressão causada pela ausência de vínculos afetivos.
Ele é – por enquanto – contaram-me – o mais novo acompanhante na solidão deste planeta. Nosso amigo – pelo seu saber – amiguinho por ser tão fofo – desbancará os eficazes sites que unem pessoas solitárias em busca de pessoas solitárias. Novos parceiros, namorados, maridos, companhias passageiras ou qualquer calor humano que sirva para amenizar a solidão cada dia mais espessa e perdida em si mesma. A solidão agarra-se, como mariscos às rochas, às paredes da nossa alma!
É nosso, buscar substituições para o sofrimento existencial ao se tomar consciência de si mesmo. Inventamos, progressivamente, renovadas perspectivas que nos tornarão mais felizes. Deixamos de nos buscar como donos da solidão, continuamente fugindo e ou substituindo as suas decorrências que não gostamos de enfrentar. Nos inoculamos com a felicidade organizada pelo progresso técnico que não temos noção onde vai parar.
Esta seria a pergunta que faria ao meu inventado Ministério da Solidão.
Aonde vamos parar?
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