“Quando o povo desperta, expectativas frustradas são mais incendiárias do que as necessidades nunca atendidas”
(Georges Clemenceau – 1841/1929)
Detive-me nesta citação de Clemanceau porque ela cabe, à perfeição, não só no cenário brasileiro, mas na maioria dos países cujo povo afirma, aleatoriamente, haver mais pessoas ignorantes do que pessoas bem informadas. Na verdade, a pobreza e a ignorância andam de mãos dadas.
Ler, saber mais sobre História, – não precisa ser um historiador, mas saber onde procurar as fontes – esclarece as causas e consequências de uma fala ou ato dos dirigentes e burocratas absolutamente ignorantes, não só de História, mas de qualquer exercício intelectual. Cabe a eles guiar com bom senso os cidadãos. (Bom senso é saber)! Mas não, eles (neste eles coloco o grande circo de políticos e homens da justiça) fazem dos seus governados marionetes na certeza de que o povo não está atento às barbaridades que emitem ou produzem.
Vamos dissecar a citação de Clemanceau:
“Mais do que as necessidades, são as expectativas frustradas que incendiam um País.” Está implícito na afirmação que é nesse momento que se cria uma tragédia. Nos revoltamos sem saber muito bem o porquê, mas certamente a pobreza não é a causa e sim a consequência. Esquecem que o povo é formado por indivíduos que estão pelas tampas por tudo de ruim que está por acontecer com o nosso futuro, já traduzido no nosso dia a dia. É esta a hora que deixamos de atender aos limites da ordem, da convivência com o vizinho, do respeito pela justiça. Brota a violência civil. Xingamos, brigamos, matamos em nome da raiva mais do que compreensível para quem analisa as causas, não gosta das consequências e busca culpados.
Não posso deixar de me manifestar sobre um ato de ignóbil ignorância: a apologia do enunciado pelo Secretário da Cultura do presidente Bolsonaro, Roberto Alvim.
Apesar de ter me proposto – neste espaço – a não emitir opiniões sobre terceiros, políticos ou situações mais do que conhecidas e amplamente apoiadas e ou criticadas – devo me manifestar quanto a declaração do ex-secretário da cultura sobre o projeto de sua pasta.
Hannah Arendt classificou o terror nazista como a BANALIDADE DO MAL. Ou seja, em simples palavras: perdoem porque eles não sabem o que fazem. Esperemos ser este o caso do secretário!
Para mim foi o limite para este governo sem plano, estratégia e metas. Joseph Goebbels jamais pode ser um parâmetro de conduta, visão política, em nenhum lugar do mundo por mais ignorante que seja seu povo. Não pode! Ponto final! É proibido! Daí vamos para onde?
O que mais me causa mal-estar é o desconfortável sentimento de que – na melhor das hipóteses – o presidente desconhecia como pensava seu secretário da cultura, e na hipótese aterrorizante sabia e o nomeou. Ou o presidente é absolutamente ignorante sobre o bê-á-bá da História recente ou Ó Deus acuda e salve nosso país concorda com o pensamento explícito e musicado com walquirianas nazistas. Ou mais, não percebe os enganos que comete, convicto de que sua sabedoria popular é a bola da vez e ou está com o mapa do extremismo escondido na algibeira. (a Ignorância pode tornar qualquer um mártir de si mesmo).
A Cultura emerge fortalecida em países que têm condições financeiras de fornecê-la. Acredito que, num determinado momento, seja necessário fechar a conta deficitária brasileira em áreas mais urgentes. Para absorver cultura/conhecimento é preciso ter um mínimo de espaço livre do cotidiano difícil para a maioria e um espaço suficientemente confortável no qual a saúde e educação sejam mediana e suficientemente atendidas.
Cabe investir, sim, em gente, pessoas, indivíduos e prepará-los para escapar da ignorância e apreciar cultura.
A Secretária da Cultura deveria ser batizada de Ministério de Recursos Humanos.
Estou cansada, desesperançadamente raivosa. Como dizem: estou com o pavio curto! reduzindo a afirmação de Georges Clemanceau em miúdos!
Não lúdico, e verdadeiro.
Como sempre, adorei o texto.
Emerson,
boa tarde,
desculpe nao responder de imediato apesar de ficar agradecida
quando há um comentário como o seu: apreciando o que me passa pela cabeça
de certo e ou errado.
Realmente este momento “Goebells”que fomos obrigados a ouvir, mexeu muito com
todos e igualmente comigo. Nao tem nada de lúdico – como v. bem diz!.
Tanto é verdadeiro quanto assustador! Espero que foi uma pisada ignorante no tomate apenas e
nao uma fala intencional !
Um abraço e continue lendo e enviando seus comentários.
Um abraço
Bettina