Declaro-me em estado de Suspensão!
Tenho escrito crônicas a partir de notícias pouco importantes, mas que, justapostas, talvez possam criar um terceiro ângulo ou uma nova conclusão sobre essas informações inúteis.
Este jogo nasceu na tentativa de preencher os vazios da minha alma. Com esforço, busco recuperar algum sentido poético que esteja perambulando acima da realidade crua que passa ao meu lado, qual nuvem escura anunciando tempo de raios e trovoadas.
Poesia não se explica. Ela vem para nos descortinar as amplas possibilidades, as infinitas versões do sentir. É possível captá-la em uma pessoa à beira da morte – uma realidade inconteste, um sentimento que escrutina o solene final de uma vida e o torna uma poesia sublime.
Poesia fala o óbvio de forma leve para quem a reconhece: o rio nasce e deságua no mar, portanto, nos permite pensar, sem lógica aparente, na vida. Um entardecer anunciando a hora do Agnus Dei, por exemplo, é uma imagem inspiradora para a poesia mesmo se os sinos não tocam.
Poesia é uma realidade expressa sem ajuda da razão!
Acho que o mundo está abrutalhado. Somos obrigados a nos proteger, nos encapsular por conta de notícias ásperas e pontiagudas que ocupam as horas inteiras do dia.
Não temos como passar incólumes sobre os principais temas da atualidade. São por demais excessivos e ambivalentes, portanto qualquer possibilidade de solução é contraditória em si mesma!
O resultado, quer me parecer, leva a uma monotonia pela repetição diária!
A título de exemplo, recolhi algumas manchetes:
“Prefeituras na Coreia do Sul bancam festas para turbinar natalidade”.
Este título informa que festas, na Coreia do Sul, favorecem a natalidade, seguida de outra informação:
”Ciência desvenda reprodução assexuada. Homens que se cuidem: podem ficar ociosos!”, Fernando Reinach adverte.
Segundo a minha percepção, a teoria de Fernando Reinach esbarra nas intensas discussões suscitadas com o filme Barbie. Na minha opinião (claro está), é possível subentender-se que o Ken, eterno namorado de Barbie, não possui um pênis enquanto ela vai atrás de uma vagina para se tornar uma mulher de verdade.
OK! digo. Contudo, cinco dias depois, o seguinte título no jornal: “Sexo ou Partenogêse”?
Esta Informação não contradiz a anterior, (os homens que se cuidem…) mas, só de pensar na hipótese, ainda que remota, da produção de um embrião sem a fertilização, me desconcerta!
Existe alguma relação entre as festas favorecendo a natalidade, a partenogêneses e Barbie x Ken.?
Penso: que chatice essa busca de povoar o mundo de maneira científica. Não seria mais simples o prosaico encontro do óvulo com o esperma, camisinha, tabelinha, pílula, infertilidade; até mesmo a abstinência ou não ter inclinação para o sexo do jeito comprovadamente funcional?
Ouso sentir que o mundo, além de suspenso, está suspeito!