Imaginem – aqueles que nasceram no século XX – como um garoto, meu neto, que completa 22 anos hoje, vai festejar o seu aniversário!
O convite convoca, via whats:
“Gente, não tô acreditando. Sou século XXI. Nasci no dia 1/1/2001. Vou comemorar meus 22 anos com uma festa, mas só entra quem estiver fantasiado de século XXI.”
Com que roupa, uma vovó, – 7.8, século XX – século que vem se distanciando cada dia mais dela – deve se fantasiar?
Esta vovó ainda consegue se lembrar da histórica passagem daquele ano. Uns óculos de plástico, o número 2000 reluzente sobre o nariz, vestida de branco. Ao pular as sete ondas para recepcionar o ano novo assustou-se ao se dar conta de que o futuro teria mais 100 pela frente!
Ela recorda, também, sua maior preocupação: o “bug do milênio”. Seria sua conta bancária zerada na passagem do ano 2000 para o 2001?
Seria sua conta bancária, simplesmente apagada da memória do computador?
Mas, neste dia 1 de janeiro de 2023, olhando para o seu guarda-roupa, a vovó não conseguiu definir um estilo que seria emblemático para o século XXI.
Poderia ser qualquer um: jovens expondo-se, nu em pêlo? Homens com adereços femininos e vice-versa.? Cabelo armado afro, chanel, carecas raspadas, barbas curtas e médias ou ainda cabelos repartidos, pretos de um lado e roxo do outro? Uso de bermudas para festas, jeans rasgados, shorts para meninas com barriga de fora? Havaianas, tênis ou coturnos para acompanhar?
A vovó, não querendo envergonhar o seu neto, lembrou de uma fantasia que lhe sobrou de antigos carnavais: de índia! Refletiu, buscou a imagem bem brasileira ao lançar seus olhos para o cocar:
– Realmente, não me ocorre nada mais século XXI do que a indumentária do índio, com suas penas e nudez, que ainda sobrevive, heroico, neste século.
Matutou mais um tanto:
– Outra hipótese seria vestida em farrapos, à moda de pobre, suja e sem sapatos; esta seria uma fantasia “in” para bem representar este século. E, nesta linha crítica de pensamento, lhe ocorreu outra analogia: vestir-se de soldado, fantasia sempre atual para simbolizar um mundo ainda e continuamente em guerra neste século.
Mas descartou as hipóteses anteriores e concluiu que a roupa mais icônica e – para não ser motivo de chacota – seria a fantasia de uma Avatar ou heroína, como Jean Grey, a Fênix, mais apropriadas para a finalidade desejada pelo neto.
Ambas cobertas por um “training” – originalmente criado para atletas – hoje, moda absoluta nas ruas das cidades. De lycra, super adesivados ao corpo e coloridos com desenhos geométricos entre as pernas e o bumbum.
Resolveu sua dúvida: vou de Avatar!
Achou seu “legging”, reminiscência de um tempo no qual se dedicava a correr, certa de estar abafando, no supermercado, com seu “collant” roxo e laranja, depois do treino.
Ela não desapontará o neto inventivo que percebeu a virada do tempo – “o gap” como se diz – entre ele, sua avó e o seu lugar no novo século.