(Este texto foi escrito originalmente em 7/10/023)
Continuo colecionando notícias sem muita relevância num mundo a cada dia mais desorientado, sem limites e pontos de referência claros.
Creio que a maior parte dos oito bilhões de habitantes do planeta Terra desconhece o braço da ciência que estuda a herpetologia, ou seja o estudo dos anfíbios em geral.
Assim sendo chamou a atenção o título e o subtítulo de uma matéria de Roberta Jansen:
Brasil registra o primeiro “canto da cobra” da América Latina
e o subtítulo:
Pesquisadores do Inpa – Instituto de Pesquisas da Amazônia – fizeram o registro, por acaso, em vídeo.
O ”grito” emitido pela serpente tem 0,06 segundos. A cobra que emitiu o “canto” é conhecida como papa-lesma ou dormideira e seu nome científico é Dipsas catesbyi.
Tenho o mais respeitoso sentimento pela evolução da ciência e admiração por seus pesquisadores, mas não é de anfíbios que se trata esta crônica e sim da relativa desimportância desta informação na prática do nosso dia a dia.
Contudo, estando, neste momento, a atenção do mundo voltada para as agressões mortíferas de uns contra os outros, senti urgência em pensar nas vidas dissipadas e tentei expressar-me numa espécie de Réquiem – um canto em coro, religioso, em memória dos mortos.
Liguei a pesquisa do Instituto da Amazônia às milhares de mortes anunciadas.
Assim canto:
Seduzida pela cobra,
Deixo de ouvir,
seu sibilo de 0,06 segundos.
Deixo de ouvir,
seu surdo silvo universal.
Deixo,
a clareza do Mal proliferar na alma do Homem.
A sombra do Bem se calar.
Não ouço sua sibilação de amor à vida.