Mundo XII o Provisório
Termino esta série de mundos e seus significados. O tema é inesgotável, mas, face a tantos ruídos desconcertantes em nosso entorno, confesso que cansei de pensar, avaliar e sobretudo discutir com um universo que não quer ouvir prognósticos bastante horripilantes. Acredito que muitos dos que lerão este texto no bettinalenci.com.br concordarão comigo.
Um pai de família, sua cabeça inteira branca, proferiu uma frase que eu rapidamente anotei:
“Um provisório bem feito é uma m…. de uma solução definitiva”!
E não é que é verdade?
Vamos ao provisório bem feito e deixemos de expectativas para uma solução definitiva, que, acredito, jamais será a que esperamos.
Falando em solução definitiva: hoje caiu uma árvore imensa em cima do meu terraço.
Por anos cresceu desmesurada. Havia pouco espaço para suas raízes se alimentarem devido à prisão de cimento em que se encontrava. Os vizinhos, em roda, curiosos, raivosos, conformados, comentavam que ela estava lá há uns 60 anos. Ligaram durante muito tempo para o 156 – defesa civil – pedindo a poda da Tipuana. Não foram atendidos. Hoje chegou a solução definitiva.: uma m…, pois ficamos sem sua vida e benfazeja sombra para cachorros e automóveis.
Necessário dizer, que a defesa civil chegou na hora. Seguida da prefeitura para a poda e por fim, – a mais demorada – a ENEL. Em menos de 12 horas, a árvore e seus frondosos galhos jaziam esparramos pela rua e calçadas (é hora de pararmos de reclamar de tudo que acontece em relação aos serviços públicos).
Minha tristeza por ela é infinita.
É a mesma tristeza que se sente quando alguém se ausenta de nossa vida!
Escrevo à luz de vela. Acabei de voltar da minha inspeção sobre o tamanho do estrago. Santos trabalhadores avisaram para não me aproximar dos galhos caídos, pois ainda estavam eletrificados. Com medo de morrer carbonizada, refugiei-me do outro lado da casa e escrevi:
“Por que não estou mais conseguindo escrever textos poéticos, textos urdidos na alma?” Qual a razão desses doze textos de minha angústia sobre o mundo? Um mundo despoetizado, assustado, agressivo, impaciente, ameaçador?
“Que relação esta pergunta tem com o fato desta árvore amada tombar em meu terraço?
Desponta a resposta:
Porque não se deu atenção ao provisório bem feito!
Acredito em soluções provisórias porque permitem continuar a busca do perfeito inexistente. Mas a solução provisória deveria se concretizar, sair do achismo e do papel com a ação, a vontade e o bom senso da maioria e … sobretudo dos poderes constituídos.
Estamos afetados pelo medo não declarado que corre em nossas veias. Lembremos que somos, metaforicamente falando – um só Ser Humano configurado em bilhões de habitantes do Planeta Terra! Não se trata de uma vingança personalizada do Universo.
Enfim… são 3 horas da manhã, o ruído da poda me impede de dormir, mas sei que amanhã terei a geladeira funcionando e os alimentos não se deteriorarão.
Finalizando: a árvore caiu. Uma m….! Mas deixou o provisório: não há mais árvores para cair no meu quintal, apesar da falta louca que já estou sentindo dela!
Conformar-se com o provisório ajuda!
Conformo-me, no momento, com a ausência de sentimentos poéticos. É provisório!