Onde nascemos, onde morreremos; estes lugares são certos que existem. Além destes, temos outros nem sempre tão claros e certos como a vida e a morte. Temos o lugar onde se viveu, os vários para onde fomos deslocados ou escolhemos estar. Existe um lugar impregnado de pai e mãe, de amigos e inimigos. De prazer e infelicidade, mágoa, bem e mal querer, um lugar para nossos mais secretos desejos onde, sem dúvida, dormem os sete pecados capitais que não ousamos revelar, suprimidos ao olhar externo.
Em muitas páginas brancas não caberia a lista de todos os lugares que a vida frequenta enquanto vivemos. Lugar para tantas experiências, reflexões, conclusões sobre o que é a vida; lembranças vivas e antigas que geralmente jazem esquecidas, mas lá estão! Cada um destes momentos vividos está esparramado dentro da gente. Reagimos a eles, cada um de uma maneira própria.
Temos, contudo, um lugar que a ninguém mais pertence. Nele sou a dona da minha consciência, das consequências de meus atos e deste lugar, sou o único guardião do farol no meio do grande oceano. Sou aquele que recebe na cara o mar nervoso da tempestade, os raios certeiros dos quais se desvia; o posto no qual o guardião das embarcações deve sinalizar os perigos como indicador de uma rota mais segura a seguir.
Por que uso no título deste texto o “seu” e não o “meu” lugar?
Porque cada um tem o seu!
O seu lugar é aquele onde você descansa, merecidamente, em paz silenciosa, a sua alma. Onde você armazenou, reunindo de todos os recônditos de si mesmo, sentimentos e vivências. Neste espaço, agora único – uma caverna guardada por um urso, branco e exigente, – você é seu próprio guardião (ou o urso) – que impede de incomodar quem lá dentro mora (você mesmo!).
Você é o urso que sai da caverna para viver o cotidiano de todos os ursos: buscar sustento, abrindo espaço entre os demais que buscam a mesma coisa, mas a sua caverna fica lá, não mais vulnerável ao sabor do dia a dia. Quem cuida dela enquanto você precisa sobreviver no mundo é você mesmo. Você e ela são um e único SER. Um e único ESTAR.
Esta caverna foi construída com o esforço de suas próprias mãos. Não há necessidade de defendê-la de vândalos e mal-intencionados. Você está defendido. Sobrevive, seguro de seu destino. Só você pode permitir entradas a desconhecidos. Negar as visitas não será para defender-se delas. Apenas não há lugar para elas. Você não violará nenhuma das regras da boa educação. É apenas uma simples vontade entre o sim e o não!
Da sua caverna você vislumbra o mundo, mas o mundo não te vê! Você está seguro e em paz celestial neste lugar, você o encontrou e construiu sozinho: é o seu lugar! Ele te pertence!
É agradável viver entre dois mundos: o seu lugar e o lugar que outros escolheram serem os seus! Como e porque o escolheram não é da sua conta! Será o lugar dele, do Outro.
Termino com uma frase de Frederick Nietzsche inspiradora deste texto:
“Depois de estar cansado de procurar aprendi a encontrar. Depois de um vento me ter feito frente, navego com todos os ventos”.