Quando atrasa o avião, fico tranquila e esquecida da hora. Quando no hospital, fico sentada, sem outra saída. Por razões diferentes, ambos saguões estão sempre lotados de gente.
Nos filmes de antigamente, tais espaço de espera eram exclusivo das estações de trem, entre abraços e despedidas, corridas atrás do trem, acenando freneticamente até ele sumir.
Quando aparecia o hospital, não havia saguão. Apenas longos corredores de cor verde claro brilhante, com cartazes de uma enfermeira ensimesmada com uma cruz vermelha no quepe e o dedo indicador na frente da boca rogando por silêncio.
Hoje, aeroportos são imensas estruturas de metal envidraçadas e o que menos se vê é o avião e o abraço de despedida. Nos hospitais, para se encontrar o quarto onde está um paciente, passamos por inúmeros saguões, elevadores sem mais botões visíveis porque ao entrar já toquei numa placa falante no andar desejado. Os corredores indicando as direções de centros médicos cujos nomes complicados assustam uma pessoa sadia.
Aeroportos e Hospitais, hoje, iguais aos enormes Shopping Centers da cidade, não parecem com o que de fato são! Avião e paciente desaparecem nestes imensos espaços públicos.
Mas voltando ao porquê gosto de ficar sentada esperando em saguões de aeroportos e hospitais, é porque o mundo passa pela minha frente nas figuras das pessoas e é possível observar alguns detalhes comuns, como animais que pertencem a um mesmo grupo. Dá para imaginar de onde são, qual a sua classe social, seu cuidado pessoal, atributos e comportamento social.
Nestes anos de espera por um avião ou por alguém que ficasse bem de saúde, minha observação recorrente é sobre senhoras de idade, atrapalhadas com as bolsas, um carrinho de nenê (vazio) e cobertor dependurado no braço.
Estas senhoras, os tornozelos já bem mais largos do que o pé, costas expandidas, bacia avantajada, seios volumosos, sempre andando atrás de uma mulher e de um homem, mais jovens, estes com uma criança no colo: claramente, a filha ou nora, filho ou genro, e ela mesma a avó que veio ajudar a ambos. Tanto na viagem quanto no hospital.
Lembro quando eu mesma, ainda jovem, carregava o meu nenê e minha mãe vinha atrás com a sacola do bebê e de mão dada com o neto que já andava, entregue aos seus cuidados. Quando só havia um lugar para sentar, eu entregava o nenê para minha mãe, deixava todas as bolsas aos seus pés cansados e ia tomar um café.
Hoje o mesmo se passou comigo. Minha filha carregava meu neto e eu as sacolas e empurrava o carrinho de bebê, o cobertor dentro tentando alcançá-la, seu passo tão mais ágil do que o meu. Já dentro do carro, sentada no banco traseiro, seu marido ao volante, minha filha do lado, meu neto na cadeirinha, sorri!