Essa crônica não gira em torno de um casal, amor ou sexo. Gira em torno de uma relação “instagranizada” “facebokizada” “whatsappizada”. Ilustra uma relação liquefeita através das redes sociais.
São dois personagens que transam sob o vago “não sei”.
M. é um explorador de regiões ermas. Das trilhas montanhosas, lá onde o oxigênio falta, envia fotos e textos indecifráveis para B.: apaixonado, perdido, solitário, poeta e amigo.
Textos de conteúdos profundos como as gargantas dos desfiladeiros e mestres espirituais que vai encontrando ao longo do caminho. B. devolve com frases curtas, amorosas, piadas, emojis e informações em morse como manda a etiqueta da comunicação eletrônica.
Quando M. retorna, ela se apercebe que a história não é a mesma que indicavam os envios de tão longe: nem amigo, nem apaixonado, solitário ou poeta.
Um dia, a título de despedida, deitam-se mais uma vez.
Ele veste sua bermuda, ela seu training, se beijam na face, declaram mutuamente que foi muito bom e concluem que ambos se encontraram no mesmo momento de vida: refletindo sobre ela!
Algo como tomar uma vitamina. M. e B. enfiam seus celulares no bolso e se despedem como amigos para sempre.
A tradução de sentimentos em códigos eletrônicos e palavras cifradas é incapaz de qualificar um desejo por inteiro.