Tenho por hábito pinçar frases de textos de jornais. Ora de alguma coluna de jornalista que acompanho, ora notícias sem origem, ora absurdos, verdades e mentiras.
Hoje li os jornais atrasados. Li os de sexta, sábado e domingo. Não sobrou tempo antes, este Tempo que todos reclamamos não ter mais. Parece que ele nos engana para nos engolir. Para esta sensação existem várias teorias, uma delas – que não me convence – é a de que a terra é plana e, portanto, o Tempo não gira mais 24 horas como se fosse redonda. Digo, só gira a metade… Uma alegoria para este carnaval no mês de abril! Confirmo que mais uma vez o tempo nos enganou ao tomar conhecimento de que esta festa dionisíaca também fugiu do seu tempo, o tão esperado mês de fevereiro do ano de Jesus Cristo.
Nesta leitura de jornais, misturadas as datas das notícias, algo me fez justapor o texto de Pedro Doria – “retuite que mata a democracia” ao meu pensamento que- talvez- explique o fenômeno incompreensível da mudança de data do nosso carnaval (algo como mudar a data do descobrimento do Brasil!). No artigo o jornalista aponta a confusão que vivemos sobre o que é democracia.
Independente do meu ceticismo quanto ao caminhar das intromissões da inteligência artificial na minha vida, a qual se refere Pedro Doria, (curiosamente, apesar de denominar-se inteligente, gera a ignorância, em expansão no planeta) o artigo sobre democracia me captou, não só por nosso momento presente, mas por encontrar um ponto comum para explicar o carnaval deste fim de abril: confusão pela frente!
Escreve o jornalista:
“No Brasil temos três ou quatro histórias que contamos a respeito do que se passou aqui nos últimos dez anos. Histórias incompatíveis umas com as outras… tão radicalmente diferentes da realidade que qualquer conversa se torna impossível.” E continua para nos esclarecer o porquê deste fenômeno…… a partir de 2009, víamos nas redes sociais o listar cronológico do que publicavam aqueles que escolhíamos seguir. Mas naquele ano o Twitter incluiu o botão de retuite, para compartilhar. E o Facebook pôs o botão Like. O número de curtidas e a possibilidade de viralizar se tornaram a medida de avaliação da importância da internet social. …… trazem à tona nosso moralismo e enterram nossa capacidade de reflexão. Democracias se sustentam com instituições nas quais a comunidade confia e nas histórias sobre o por que formamos uma Nação. Quando nós partimos em grupos que deixam de ter uma história comum, deixamos de nos ver como um povo único e interpretamos a ação das instituições de forma tão diferente que perdemos a confiança nelas. A democracia perde a base que a sustenta.
É solitária e depressiva a sensação de que vivemos uma nação fragmentada, uma nação que não conseguiu ainda se construir independente de um legado de histórias cujo final não confere com o enredo contado no início delas. Concordo com o jornalista na sua exposição: nossa débil democracia corre risco todo dia.
Não estou mais conseguindo acreditar em algo novo no lugar das velhas histórias. Se nem mais posso costurar a minha fantasia para o próximo carnaval na certeza que haverá um, então como posso acreditar que o Brasil continuará um país democrático? Continuaremos confusos em relação ao significado de datas, modos, costumes e regimes políticos? Mudando datas – de longa data originais do calendário brasileiro – mudamos um ponto de referência. A democracia é uma rotina cívica assim como o carnaval é uma rotina popular tão importante quanto a sobrevivência da nossa imatura democracia. Será que no nosso país não há uma única pessoa ,com poder, capaz de nos contar uma história inédita e crível? Uma que nos contou no passado e exequível no presente?
Incrédula, só tenho perguntas para hoje. Que destino é esse nosso? Homens constroem o destino de uma nação? Ou é obra do acaso, desígnios? Talvez obra da imperfeição inerente ao Homem?
Por enquanto , caso não mudem a data do carnaval em 2023, sei que o desfile das Escolas de Samba – com certeza – conta uma história com começo, meio e um fim certo!