Nada para fazer!
Sem destino objetivo, toco no YouTube que me informa ser o dono da Zara o homem “mais rico do mundo”.
(Surpreendo-me cada vez que aparece um novo homem ainda “mais rico do mundo” do que o anterior! Quantos serão eles?).
Interessei-me por este homem mais rico do mundo porque, a cada vez que entro em uma das 2.000 lojas da marca Zara, me surpreendo com a boa qualidade de peças idênticas às das grandes marcas e, o mais importante – podendo ser compradas por pessoas – não as mais pobres do mundo – mas remediadas.
(Fui informada que as grandes marcas de luxo, contudo, estão vendendo como pãezinhos quentes também!)
O senhor, dono da Zara, passou fome na infância e, quando adolescente na Corunha, Espanha, onde nasceu, iniciou uma confecção de camisolas de algodão e um peignoir matelassê copiado. Qual não foi a surpresa? Por conta do frio e da pobreza na cidade, as mulheres começaram a usar o peignoir como sobretudo para esquentá-las. Simples assim!
Este homem mais rico do mundo, entendeu, brilhantemente, que, se oferecesse produtos copiados das grandes marcas, a preço acessível, obteria resultado.
Em poucos anos, construiu um tipo de bunker como escritório central. A entrada era vedada a estranhos para proteger seu segredo: não só copiar as mais recentes tendências antes de serem lançadas no mercado como fabricar suas peças nos lugares mais pobres do planeta.
A pecha do uso indevido de mão de obra escrava, claro, tornou-se uma questão um tanto cabeluda – além de processos sobre plágios que, para o homem mais rico do mundo, não pesam, pois o lucro é muitas vezes maior do que as multas sobre a contravenção.
Quando o mundo acordou e apontou o uso incorreto de mão de obra infantil e o processo de destruição do meio ambiente ao despejar a tintura dos seus jeans nas águas planetárias, ele teve que mudar o rumo de seu enriquecimento, a rigor, ilícito e, da noite para o dia, tornou-se o protetor consciente da natureza.
Corretíssimo, mas… ele já se tornara trilhardário ao entrar pela brecha da desigualdade eternamente vigente nessa nossa Terra, cada dia mais inconsciente do mau uso do ser humano e da natureza.
Esta é a receita para se tornar o “homem mais rico do mundo”!
Uma consciência flexível. Ao vai da valsa!
Na minha insignificância, lembrei do homem, gordo, imenso, – e nem por isso forte – puxando uma carroça, digo sua casa e, dentro dela uma mulher, presumível a mãe dos três pequenos seres que dormitavam ao seu lado, um deles bebê sendo amamentado.
Estacionei o carro, ruas vazias por ser a tarde do dia 24 de dezembro, desci e lhe estendi uma nota de R$100.00 – é demais, diriam alguns – e lhe pedi encarecidamente que não produzisse mais filhos. Depois, lendo os inscritos nas laterais de sua casa de sacos de lixo, em letras garrafais: PIX tal! ocorreu-me: será ele um dia o homem mais rico do mundo ao produzir – com resultados exorbitantes – casas com sacos descartáveis de plástico ou continuará sendo o homem mais pobre do mundo?
Preciso confessar do fundo do meu inconformado coração: somos insignificantes perante a significância dos fatos que relatei vividos entre a hora do nascimento do Jesus menino e a realidade que continuará sendo excludente neste ano que acaba de se iniciar.
A vocês do meu círculo mínimo de leitores – seguidores tenho o suficiente – desejo o que desejo para mim mesma:
PAZ para podermos olhar e reagir, mesmo se impotentes, aos absurdos e infames fatos que continuarão a nos circundar.