O primeiro sintoma, de verdade, indicativo de que algo indefinido estava sucedendo com a gente é ao perceber que aguardamos o exame de sangue com a mesma expectativa que se aguardava o resultado do vestibular, agora já precisando de pôr os óculos.
Na visita clínica, anual, ao médico, uma pessoa na beira dos
50/60 anos, as partículas do seu exame de sangue divididas em dezenas de possíveis doenças, passa para o paciente que chegou o momento para começar a lidar com o longo processo natural da decrepitude ao médico afirmar:
-Seu colesterol está muito alto!
-Como assim? Colesterol, alto?
-A senhora não sente dor na nuca?
-Na nuca? Pode ser, de vez em quando!
A senhora tem pressão alta! Vai ter que tomar remédio para baixar o colesterol e a pressão para o resto da vida.
A senhora não sente falta de vitalidade?
-Cansaço? Como assim?
-Durante o dia?
-Por quê?
-Porque a sua tireoide está funcionando devagar.
Vai ter que tomar um remédio para o resto da sua vida.
A partir daquele momento desperta em nós que chegara a hora em que o viço da beleza e do corpo, até então inconsciente em nós, apresentar-se ao Tempo.
Criar uma crônica sobre o envelhecimento não é tarefa auspiciosa quando a fonte da juventude parece que pode ser preservada com banhos diários com leite, 1 colher de café de veneno de cobra verde, ½ litro de suco de uva roxa e 1 colher de sopa de néctar de abelha que só existe em flores amarelas e juntar uma pitada de gengibre em pó. Que o diga Cleópatra, a rainha do Egito conhecida por suas poções mágicas para manter a beleza e assim seduzir Marco Antônio, o romano invasor.
As receitas, segundo especialistas em produtos químicos e profissionais do setor de beleza, nos orientam com fórmulas por vezes inexequíveis, absurdas, em busca da eterna beleza.
A vaidade passou para a categoria de inserção social, talvez revelando a verdade: todos somos vaidosos e brigamos com o tempo que passa! Aliás homens, ultimamente, vem sofrendo da mesma síndrome precoce do envelhecimento
O envelhecer tornou-se um ataque impiedoso contra a perda da elasticidade natural da pele que só faz obedecer à lei da natureza. O marketing é bombástico, a cada dia mais prospero e orientador de nossos desejos impossíveis de realização. A tentação é irresistível com suas embalagens douradas, fórmulas e texturas. Caímos na rede da sedução e consumo. Todos nós! Se não tão eficaz quanto promete ser contra as rugas, apazigua o confronto circunstancial com a realidade.
Tudo mudou! A medicina, pílulas, tratamentos doloridos e custosos nos dão a sensação de estarmos combatendo um inimigo: o Tempo e assim, tentando desconhecer a sua existência. Ao mesmo tempo que a transformação de um estágio para outro é lenta e gradual, vive-se o contraditório: o processo da perda da aparência jovem está relacionada à sensação de que o tempo está passando rapidamente e nos faz crer, nos engana, que, biologicamente, ele cria, igualmente, rugas mais cedo.
Jovens entre 40 e 50 anos já começam a projetar seu envelhecimento futuro comparando-se com a juventude dada como perdida. Negamos viver o Tempo no seu compasso descompromissado. A noção de Tempo mudou. Não nós!
O tempo de ser jovem e o tempo de envelhecer não aceita controle: o Tempo se esgota, ele também cansado de ser jovem eternamente! É um momento maldoso na vida da gente!
O envelhecimento tem hora marcada para se apresentar ao TEMPO!