Espelho.
Vidraça.
Telhados de vidro.
Espelho de sombras alheias,
vidraças espatifadas,
cheias de espíritos
mal-assombrados.
Inquilinos da esplanada,
consciência açambarcada
na penumbra do esconderijo.
O poder dando as cartas,
os dados jogados.
Todos os pecados embaralhados
num só tablado.
Enquanto isso…
Um catador de lixo,
a carroça seu único telhado,
caminha desamparado,
amanhece com o dia dobrado.
De lá para cá,
pára, pede, repele.
Fôlego de sete gatos.
Hoje, amanha, sempre,
pouco papelão preso no cordão.
Puxa carroça.
Do lado,
cachorros amigos.
Pára, pede, nada mais repele.
Resignado,
tarde pequena,
no bar da esquina,
um só carteado embaralhado.
Tenta os dados por alguns trocados.
Nenhum resultado.
No fim do dia,
de novo embaixo da carroça,
velado pelo respiro de
seus cães amigos,
sonha preto.
Vou chamar o encantador de serpentes
para com seu volteio,
encaminhar os peçonhentos,
mandá-los embora,
descer as rampas de todas as esplanadas.
É feia a pobreza
até em poesia.