Logo não teremos mais porta-retratos sobre o criado-mudo para lembrar de um momento que se foi. Com uma simples pressão do dedo no celular, o filho envia a foto que tirou com a namorada para o celular da mãe do outro lado do oceano.
Ela por sua vez não tem como colocar a foto dele e a namorada em um porta-retratos.
Só quando abrir o celular para ligar para sua amiga, se lembrará de que tem um filho.
Dentro em pouco não teremos mais onde nos procurar.
Estaremos eternizados em alguma maquininha já substituída por outra mais moderna.
Certamente quando eu acabar de escrever estes meus pensamentos, já existirá uma maneira ainda mais rápida e dependente de um novo aparelho para enviar fotos para minha mãe.
Vi na casa de meu irmão, um homem ligado 24 horas na modernidade que tem um porta-retratos que vira, a cada 5 segundos, uma nova foto. Fiquei olhando as fotos como se tivesse vendo um álbum antigo folha por folha. Perplexa, queria saber como foi que elas foram parar lá, mas fiquei com preguiça de perguntar por que não ia entender.
Bateu-me uma saudade grande dos velhos álbuns, pesados, empoeirados, as fotos semi-presas e prontas para se desprenderem dos triangulozinhos que perderam a cola, as fotos amareladas ou azuladas se coloridas e conclui que não tenho vontade de ter um porta-retratos digital em minha prateleira. Os momentos tornam-se fugazes e a lembrança desaparece.
Um dia os megas e os bytes vão fazer uma greve e ameaçar explodir a memória dos computadores e aí as fotos cairão num limbo como corpos inertes enterrados embaixo da terra.
Neste momento prefiro reavivar a memória com as fotos coladas no álbum que não se perderá.