Hoje, quando perguntada sobre a leitura que faço do momento em que estamos, sei, de antemão, que o interlocutor espera que eu revele o teor dos meus pensamentos. Seria eu republicana ou democrata, conservadora ou liberal, à direita, à esquerda ou a seus extremos?
Dependendo da minha resposta, concordamos. Caso contrário, a conversa vira uma guerra e, então, a partir de crenças, serei julgada segundo os valores que regem a minha visão de mundo.
Hoje em dia, a verdade ou a mentira se equivalem quando o assunto versa sobre sua visão de mundo, o que obrigatoriamente incluiria ética e moral.
Os discursos políticos dos candidatos – qualquer um, em qualquer país – ao sentarem-se na cadeira de cargos públicos, não separam os conceitos de ética e moral e, assim, temos a ausência de ambos os conceitos.
Para dirimir qualquer dúvida sobre quais são meus valores, de saída, explico que apenas acredito no conjunto de leis emanadas e constituídas do poder Judiciário. No meu entender, exclusivamente o Judiciário teria o direito e a autonomia para julgar a moralidade (minha), do cidadão e, consequentemente, do poder que nos governa.
Isto posto, amola-me saber que retrocedemos, significativamente – não só no Brasil, mas em grande parte de outros países – sobre o que é ou deixa de ser moral, como conduzimos nosso dia a dia diante dos hábitos e dos costumes.
Amola-me saber que, um dia, o valor que dou à conduta moral terá pouca ou nenhuma força de argumento.
Amola-me o mundo atual, do vale tudo, ou, pior, do fo… aqueles que ainda acreditam no que é certo e errado!
Amola-me por ter entendido que as virtudes humanas deixaram de ser aplicadas e assim desistimos ou pouco combatemos por elas.
Assim sendo, aproveito a celebração da Proclamação da República em 15 de novembro de 1892 e o término da leitura da magistral narração de Os Sertões, livro de Euclides da Cunha, para traçar um paralelo entre moral e ética.
O fato ocorreu em nosso território: no Nordeste brasileiro. Um fato histórico. Um equívoco que pode ser interpretado, severamente, sob o olhar ético.
No século passado, a recém declarada República empreende uma guerra contra seu próprio povo quando da Batalha de Canudos (1897). Euclides da Cunha, ao descrever o episódio desta guerra infame, embute nas entrelinhas do texto o desdém, o desconhecimento que o Brasil tem do que vem a ser ethos e moris.
A República, achou por bem eliminar, literalmente, um bando de fanáticos religiosos, sertanejos, historicamente ignorados pelo poder central, largados à sua própria sorte, desprovidos de tudo, em uma região tratada como inexistente no nosso País.
Em Canudos, cinco mil brasileiros foram massacrados, à queima roupa, por 10.000 soldados do exército republicano, seres humanos vivendo em casebres de pau a pique, mortos de fome e sede que nada mais faziam do que acreditar na salvação de suas almas.
Como não recorrer à História, em qualquer momento?
Senão, vejamos:
A moral cala-se frente à égide da barbárie, com sua ausência total e absoluta da Ética. Estamos à mercê de homens, cobras eleitas como heróis, desprovidos de crenças e valores éticos. Líderes sem predicados para conduzir a humanidade a esferas de paz e prosperidade. Hoje é chavão dizer, eu sei. Mas, como disse um dia Eduardo Galeano, não existe História muda!