Os porta retratos eram lindos. Quadrados, redondos, minúsculos, em madeira, prata ou ouro entalhado ou lisos. Brilhantes ou opacos. Dispostos em cima de qualquer superfície, um estranho, ao entrar numa casa já podia, sem nunca ter estado lá, adquirir certa intimidade com os moradores ou, presenciar situações de momentos como casamentos, viagens e nascimentos. Podia também, quando não sabia como entabular a conversa, ficar de pé, colocar os braços nas costas, curvar-se um pouco para ver melhor e ai perguntar: – é sua filha? Seu neto? Pronto, a formalidade já estava um pouco quebrada facilitando, bastante, o próximo passo.
Esse ritual tende a desaparecer por completo! Não há mais porta retratos para puxar conversa!
Está difícil lembrar de um momento que já foi ao adentrarmos pela porta da casa de alguém – ou nossa mesmo- e olhar para uma foto no porta retrato.
Daqui a pouco não teremos mais onde nos procurar porque estaremos eternizados em alguma maquininha já substituída por outra mais moderna, a antiga perdida ou jogada no lixo.
Uma simples pressão do dedo ao falar com a mamãe no celular, o filho já aproveita para tirar uma foto com a namorada. Mas esta mãe não tem como colocar a foto do filho e sua namorada no porta retrato. Para tê-lo, precisaria da ajuda eletrônica que, muitas das vezes não compensa o esforço: ela não quer a namorada no porta retrato porém, quando abrir o seu celular para ligar para a amiga, poderá lembrar que tem um filho guardado nas nuvens!
Um dia os mega e os bites vão fazer uma greve e ameaçar explodir a memória dos celulares fazendo virar pó todos os selfies do mundo. Ninguém mais iria se lembrar de alguém e saber quem é quem. Não haveria o antigo e bom álbum de fotografia para folhear a lembrança. É uma pena! Mas era assim que no passado as pessoas viviam: nos porta retratos ou colando fotos como recordações preciosas de momentos inesquecíveis.
Talvez não queiramos mais ter lembranças e optamos por guarda-las longe de nossas vistas. Talvez não queiramos mais tornar o momento eterno. É possível que não tenhamos mais tempo nem para lembrar-nos e nem para eternizar-nos porque nos falta tempo para viver.