Esqueci o assunto da crônica de hoje.Acho que o tema tratava, justamente, do esquecimento que me levou a divagar sobre o meu estar na terceira idade.
Li que ao ir envelhecendo a gente vai se tornando transparente para quem nos olha. Não somos mais vistos. Não é verdade!
Sou informada, insistentemente, que empreendendo uma série de mudanças na minha maneira de viver, poderei viver mais e assim terei tempo para ser feliz de verdade. Para tanto basta nos conformarmos que nos tornamos idiotas e começar a dançar nos sábados à noite, a dar beijo na boca de outro velhinho, seu par na dança, e ensaiar alguns passinhos claudicantes de rock and roll com música dos The Platters. Incentivam-nos a fazer sexo, recomendam iniciar o tai chi chuan, de preferência ao alvorecer e alongamento ao entardecer. No meio do dia natação com tábua, batendo os pés. Alimentação balanceada e adeus a tudo que gosto de comer.
Mas, os sulcos em torno da boca, o queixo duplo, os dentes amarelos, a ponta da orelha caída, a salsinha presa nos dentes, a barriga que se encontra com os seios na hora do banho ou ao vestir a meia, não nos deixa esquecer que somos da tribo da terceira idade.
Não sei qual mídia, qual laboratório, qual vizinho quer me fazer crer que a felicidade, finalmente, chega se e quando formos ao baile do Salão Vermelho.
Pensando bem, por que não tentar? Vou me matricular numa escola para quando dançar tango não me esquecer de contar ao parceiro sobre a dieta balanceada e o execrável exercício.
Mas, que pena, o tempo já se despediu de mim deixando apenas o esquecimento em seu lugar. Não vou conseguir chegar ao Salão Vermelho. Esqueci onde era!