Por trás do conteúdo da mensagem, dois filmes merecem uma reflexão:
O Coringa e A Odisseia dos Tontos.
Não vejo o Coringa como um pobre coitado, louco e abandonado por uma mãe desajustada cuja vida transcorreu infeliz como o filme parece indicar.
(Humm!, no filme, fico desconfiada sobre o relatório surrupiado pelo Coringa do Sanatório para Loucos onde descobre verdades que não lhe caem nada bem. Não é incomum essa história de filhos legítimos serem declarados ilegítimos – no caso, a identidade do pai do Coringa poderia ser um riquíssimo senhor candidato a prefeito de Gotham City – não estou dando spoiler!)
Mas este não é o intento central da história, apesar de que poderia explicar, em parte, o que aparentemente teria desenvolvido a violência descomunal do filme. Ouso afirmar que o Coringa deste filme é uma pessoa altamente perturbada sim, por tantas razões que vão se desenrolando, mas louco ele não é! Ele é portador de uma doença gravíssima que o faz rir compulsivamente, cientificamente intitulada “epilepsia gelástica”. No filme, quem está por perto acha que ele está rindo “da cara dele” como se diz, e nesse momento, aciona a sua incomum violência com consequências desastrosas para a figura do palhaço.
No final, em meio a uma revolta – e aqui está a minha reflexão – Coringa faz uma afirmação brilhante, clara e assustadora, acerca da sociedade dos poderosos e seu olhar cruel sobre os desvalidos e doentes mentais. Segue uma revolta em Gotham City, e o indistinto povo, uma massa incontrolável de palhaços mascarados, incentivado pelo discurso de quem poderia ser um louco, elege o Coringa seu representante.
Por que trago o Coringa como paralelo ao enredo principal do filme “A Odisseia dos Tontos? Ele se passa na Argentina e o tema, o famoso Corralito – assemelha-se ao que ocorreu no Brasil com o Plano Collor. O filme apesar de não registrar nenhuma violência, ao contrário do Coringa, é uma parodia bem-humorada, inteligente e muito engraçada. Mas, ambos embutem, no meu entender, a mesma reflexão: os chamados Tolos ou “enganados” na língua castelhana e os palhaços de Gotham City, o povo, lesados e roubados pela corrupção e mentira do poder público, revoltam-se e decidem, um com violência e o outro com astúcia e criatividade, fazer justiça por conta própria.
Tenho medo disso! Ao longo da História, nas revoltas e revoluções ocorre um final não programado tanto para vencedores quanto para perdedores, sempre com o esparramo incontrolável da violência, sempre!
Acho que o povo do mundo anda cansado do poder dos seus dirigentes em articular políticas e manobras para concretizar suas fantasias, mentiras e vaidades.