Escrever, escrevo desde tempos remotos, mas apenas em 2006 acreditei que esta atividade pudesse deixar de ser diletante. Os textos escritos da adolescência até a idade madura versavam sobre a perplexidade do Existir. Eram textos autorreferentes em busca de uma identidade, despejando as angústias e dúvidas sobre mim e o mundo. Um processo que valeu como caminho para o autoconhecimento que, mais tarde, desembocou na necessidade de recompor a história e estórias de meus pais e seus prováveis antepassados. Não buscava a assertividade de datas e parentescos, mas compreender como o Tempo Passado aconteceu sem minha participação. Ao final de três anos, pude “ler” uma história desde a infância de meus pais até a imigração, a vida que construíram aqui no Brasil e por fim volta deles para a Alemanha onde estão enterrados.
Fotos dormentes em gavetas são talvez a mais penosa tarefa. O herdeiro fica indeciso, sem saber de deve guardá-las para a próxima geração, rasgá-las ao meio e jogá-las no lixo ou se fica aflito sobre o que elas podem revelar de desagradável.
Depois da morte de meus pais, ao ser obrigada a esvaziar gavetas e armários para dar um destino à herança, encontrei fotos de pessoas desconhecidas,de quem apenas ouvi dizer. Não disposta a apagar “o sangue que corre nas minhas veias”, dei às fotos um destino no sentido de não inviabilizar o Circuito do Tempo. Senti que cortaria um fio invisível, dentro do qual se encontrava a possibilidade de trazer à luz: o Tempo. A visualização fotográfica do passado, por mais imprecisa que seja, cumpre a tarefa de encontrar para nós um lugar no mundo.
Colei as fotos em um grande caderno de desenho, acompanhadas de textos escritos à mão. Estes, de alguma forma, dizem respeito à memória imprecisa em mim evocada, portanto verdades absolutas para mim. Não existe outro roteiro igual. O que lá está colado e escrito só à mim pertence. Esta vivência profunda resumi no Livro 45 de 2006, não mais na voz subjetiva da adolescente, mas na voz de quem encontrou suas raízes e identidade.
Como resultado desta peregrinação, descobri o talento para escrever crônicas e novelas. Criei o blog LEGADO VIVO tanto para inserir as cronicas como os livros,poemas e novelas escritas entre 2006 e setembro de 2019 quando passei o conteúdo do Legado Vivo para este novo site: bettinalenci.com.br
Há uma nota importante para acrescentar : nos escritos procuro fugir do padrão nostálgico de que “o meu tempo”, o século XX, era melhor do que hoje! Não era! Era diferente, mas dele não posso fugir. Vivo com intenso interesse as transformações das relações, hábitos, crenças e valores ocorridas de lá para cá.
Minha amiga Bettina,
Nessa manhã de domingo, sem filhos e netos, me dediquei à leitura de seus contos.
São especiais. Histórias ou estórias, reais ou não, mas cheias de emoção e muito bem escritas.
Continue escrevendo.
Beijo grande
Mané
Lena,
Obrigada por seu tao carinhoso comentário.
Manha sem filhos e netos é um sossego. Qual dos contos v. gostou?
Muito Importante para mim sua avaliação, seguimento e se gostou, divulgue o site bettinalenci.com.br
grande beijo de sua amiga de sempre.