Meu avô, velho coronel, oriundo da pequena aristocracia baiana, ficava sentado em frente à uma mesa de jacarandá, à luz de uma ampla janela iluminando, por horas seguidas, um álbum de fotografias. O álbum era tão antigo quanto os 101 anos que ele viveu. Senil, folheava, página por página, voltando sempre à primeira. Ali sentado, passou a ser para todos, como o relógio de coluna no canto da sala, os ponteiros juntos, parados no algarismo doze.
A casa onde morava era de uma fazenda que perdera sua majestade. Os móveis, os tecidos, vasos e bibelôs datavam do século XIX. Só a velha escrava alforriada ainda cozinhava a galinha de angola que passeou pelo terreiro de cacau à cata de escorpiões.
As longas folhas das samambaias dependuradas no amplo terraço de azulejos importados da França contavam uma história, enquanto o galinheiro, sem mais galinhas, o curral sem mais o gado, a horta sem mais hortaliças, contavam outra.
Esta lembrança me causa desconforto.
Quando chegou a minha vez de folhear o álbum, entendi ter diante de mim não mais fotos históricas. Dei-me conta que era o Tempo invencível prensado entre as páginas , atemporal.
O Tempo não pertenceu ao meu avô, não pertence a mim e a ninguém. Ele pertence ao ar, ao vento, oceanos e florestas. É matemática sem erro.
Como protagonista da nossa Existência, somos prisioneiros rendidos ao Tempo.
** este texto foi inspirado no livro de Zygmunt Bauman, “Vida Liquida”.
Querida amiga, acredito que o Tempo seja somente um ; somente Tempo,pois quando quero, estou no terraço de São Sebastião. Na verdade, posso ver a Ilha. Tudo dentro de mim, com perfumes, luzes, cores. Volto para minha casa ,no tempo agora. è bom. Mas se quiser, vou ao Temo/amanhã.Talvez seja o Tempo, a Santíssima Trindade e, por amor, ou por fé ou porque simplesmente assim quero, assim é. Coisa engraçada aconteceu no lançamento do último cd da Céu: o palco lotadíssimo etodo mundo cantava e dançava. Porém, uma das músicas chama-se Terraço Suspenso. Achei que esta música ela não cantaria. Afinal, o Terraço suspenso era a visão dela de S. Sebastião e da vista da Ilha Bela. Pois ela começou a cantar e para minha surpresa e real espanto, todo o público cantava junto. Mas como assim? É o Meu terraço! Mas, cada pessoa tinha o seu/meu terraço… bem, falamos depois. fez-se tarde. Bj
Querida MCarolina,
abro poucas vezes o meu blog porque sei que poucos comentários contem. Nao me importo porque escrevo para
guardar as minhas lembranças , idéias ,sentimentos e, como v., como o apreendo o Tempo nas palavras.
A gente não consegue se encontrar. Verdade que passei um longo período reclusa em busca de compreensão sobre o sucedido. Todos já passaram por separações doloridas. MAs é preciso passar a sua própria para entender a dor que o
outro já passou.
Depois de um encontro que não deu lá muito certo com a Edith – ao meu ver tinha uma outra imagem dela – talvez porque passou por poucas e boas com sua saúde, vamos tentar nos encontrar e quem sabe, um dia chegar até o seu
sitio tranquilo e feliz e conhecer as suas obras.
Aliás, como vai a exposição que v. ia fazer no Sesi dai?
Me conte um pouco.
Parabéns pela sua filha. Acompanho seu talento e sucesso consequente.
beijos e saudades
sempre
bettina