No século passado havia um jogo com o nome Resta Um. Era uma caixa de baquelite cor creme com vários furos. Em cada furo uma peça vermelha para encaixar. Jogava-se a dois. Quem primeiro “comia” a última peça do tabuleiro, ganhava o jogo.
É assim que me sinto quase todo dia quando tenho que levantar da cama!
Tem coisa melhor do que não ter que sair da cama? Não ter que sair correndo por que o relógio indicou que teríamos que tomar o café da manhã? Banho curto, cuidados pessoais transpostos, ansiedade… depois isso, e depois aquilo para ser feito?
O único problema em continuar na cama são os remédios que tem hora certa para serem tomados. Uns só podem ser tomados depois do café, outros meia hora antes. É nesse preciso momento que o dia relativo à saúde começa a se complicar: ao não sair da cama na hora certa, a convencional hora do almoço passa a ser o café da manhã e aí vai atrasando todos os demais remédios receitados. O remédio a ser tomado antes do almoço passa a ser tomado antes do jantar e aquele que deveria ser tomado depois do almoço e do jantar fica perdido na caixinha de remédios que foi minuciosamente arrumada para que as pílulas sejam tragadas na hora marcada, assim restou um!
A caixinha para a organização dos remédios é um outro “problema”. Diz respeito primeiramente a escolha de qual a mais adequada para nossos hábitos e gosto. Elas são de formas geométricas, transparentes e de várias cores, todas claramente identificadas com os 7 dias da semana.
Nas farmácias, junto ao caixa e medicamentos contra dor de estômago, azia e dor de cabeça, estão dispostas as caixinhas de remédio. Impossível não olhar se tem alguma que ainda não se experimentou, pois aquela em uso poderia ser substituída por outra mais adaptável à sua maneira de viver. Compra-se para experimentar! Nenhuma se adapta porque tomar remédio todo dia é uma tarefa indesejável e irritante. Tenho uma dezena delas na gaveta. Nunca se adaptaram a mim e sim eu a elas. Todas se parecem com uma colmeia e seus casulos.
As caixas que permitem organizar a semana indicando os dias a partir de domingo geralmente tomam espaço nas bolsas. Para evitar este fato se faz necessário uma caixinha – daquelas que lembram uma tia ou avó, geralmente de porcelana ou prata. São redondinhas, delicadas, e antes de sair de casa faz -se a transferência da caixa principal dos medicamentos do dia. Existem caixas maiores que podem ser armazenadas para não mais pensar na organização dos remédios por duas semanas, três ou mês! Mas estas só podem ser usadas em sua casa, colocada em algum lugar que se veja de supetão, para não esquecer de tomar a dose diária de veneno, caso você almoçar, tomar o chá das cinco, jantar e dormir em sua casa.
Agradeço diariamente às grandes indústrias farmacêuticas por produzirem remédios de distintas cores, tamanhos e formatos. Por aí ficamos sabendo, se a caixinha está corretamente preenchida, cada cor em seu lugar.
Uma pessoa com mais de 50 anos normalmente inicia o pesadelo dos remédios certos para a hora certa, (duvido que haja alguém que não tome ao menos 2 por dia) e a partir daí passa a viver o tormento das caixinhas.
Há ainda uma terceira questão para os envelhecendo: onde guardar os remédios que não estão à mão ou nas caixinhas? Além da reserva para a segura reposição no processo da organização do seu dia a dia, semana, mês, o que acontece se um dia verificar que um deles acabou e vai deixar um lugar vago na caixinha?
A primeira sensação é de pânico:” já tenho um sistema de como me organizar, adaptado às minhas idiossincrasias!” Por um segundo, ficamos perdidos até que os sentidos voltem e passamos na farmácia para comprar um novo e voltamos ao hábito de pacientemente tirar os remédios do seu invólucro e organizá-los conforme os dias e horários que o médico indicou. Voltamos à rotina e voltamos a classificar, diligentemente, em cada quadradinho da caixinha.
Conclusão, caixinhas de remédio estão aí para que, além dos necessitados remédios para os males da idade, os médicos nos receitem pílulas para a variação de humor. Claro, é impossível dar conta destas malfadadas caixinhas sem ficar de mau humor, todo dia!
Realidade de quem passou dos 40.
Amei.
Muito obrigada Mary, por ler-me! Tao raro receber retornos…
É verdade! quem já passou dos quarenta sabe o que é perder uma amiga querida.
Sendo um conto, inventei a estória mas Moema morreu mesmo e ficou igual vazio
do personagem. Até hoje! Nao se esquece jamais um amigo.
uma abraço
Bettina