Hoje acordei mais Rosa, separada de um leve preconceito contra, não a cor mas contra o estereotipado conceito – talvez – engendrado no mundo daqueles homens para quem tudo que está “enganado” na mulher é definido como rosa. (Não entendo porque a cor rosa está tão intimamente ligada a maneira de ser da mulher. Por que não azul, por exemplo, corriqueiramente estereótipo para homens? Certamente invenção do marketing que explora o lado rosa da mulher até nos anúncios para margarina).
Normalmente reajo mal quando longinquamente sinto-me carimbada de rosa. Ontem, porém, o rosa emergiu de maneira Rosa no lançamento de um livro escrito por 23 mães cujos textos falam do que gostariam de deixar como legado para suas filhas. Ali, entre os meus 23 pares, assinando seus livros com sensíveis dedicatórias umas às outras e aos muitos convidados; o burburinho de alegria e momento de comunhão, uma só voz de mulher, senti o espaço Rosa desabrochando, atingir seu ápice e recolher-se ao final do evento. Um momento de transformação confortável do rosa carregado de rótulos para o Espaço Rosa. Criou-se ali uma novidade registrada em todas as letras que deverá marcar momento.
Mas eu disse que hoje acordei mais Rosa. (o leitor perceberá que escrevo rosa com R maiúsculo e rosa com r minúsculo).
Explico:
Sinto haver um espaço, em cada ou talvez em algumas, provavelmente na maioria das mulheres, o Espaço Rosa. Um espaço atemporal de difícil definição, mas tentarei qualificá-lo como timidez, resguardo, sensível. Um espaço comumente definido, como fechado. Este estado ocupa um espaço não organizado; ele sobrevive erraticamente. É um núcleo de sensações difusas, vagamente desatento, vagamente rebelde, vagamente de prontidão, vagamente vago, (este último, alvo maior da crítica). Este Lugar Rosa é o núcleo da sobrevivência intuitiva. É um lugar contrário ao fechado – ele é aberto ao mundo e à vida como ela é.
Assim, hoje acordei menos rosa e mais Rosa e, entre um cochilo e outro, ainda envolta na atmosfera gentil e natural do evento não rosa, comecei a definir alguns malvados rosas que impingem à mulher:
Seu perfume é rosa, conquistador; sua maternidade é rosa, exagero; sua fragilidade é rosa, mentira; a delicadeza rosa, piegas; o rosa exagerado, seu sofrimento. Sua vaidade cheira a rosa enganadora, sua coqueteria sublinha o rosa conquista. E assim vão se colorindo seus atributos em rosa preconceito pouco atento ao que a mulher realmente é por natureza.
(Também não é “uma fortaleza” como definem mulheres corajosas além do limite do medo. Sustentadas na crença da independência, elas emitem uma imagem de poder que nem sempre exercitam com sábia parcimônia resultando no reforço do rosa preconceito para com as demais mulheres não fortaleza. Sou a favor de que no mundo dos gêneros, homem e mulher, não existam direitos à exclusividade a nada, – friso o nada)