Caminhar no quadrilátero dos jardins é uma aventura de cross country tanto são os obstáculos a serem vencidos entre buracos e raízes de árvores expostas.
Enquanto tomo muito cuidado para não cair nas armadilhas, imagino como será a minha velhice andando por ai.
Senhoras de idade dependuram-se no braço das empregadas que diligentemente não as deixam tropeçar. É dedutível tratar-se de uma empregada que conhece a patroa de longa data e a ela devotou muitos anos de sua vida. Ambas formam um só volume, dependem uma da outra em medidas desiguais. Há um deslocamento lento e silencioso entre elas e uma condição de dependência neste caminhar. A da patroa é maior do que da acompanhante. Neste encontro há uma coroa de submissão ao tempo e, no espaço agarrado dos braços, uma tensão paciente aos perigos da calçada que se abrem a cada passada trôpega.
É possível distinguir uma empregada com muitos anos de serviço, de outra recentemente contratada para o mesmo trabalho. Essa tem um ar assalariado, perto do indiferente. A empregada de longa data se assemelha à sua patroa nas roupas herdadas , o que a torna quase igual a uma amiga do mesmo círculo social.
Não são poucas as patroas e empregadas siamesas – de tão diferentes necessidades – que vejo neste quadrilátero paulistano.
Fico imaginando o transcorrer do dia no apartamento!
Dentro de casa, as dependências, apesar de mútuas, voltam a ser desiguais. Uma na cozinha, outra na sala. Uma dorme na sua cama de viúva e a outra onde sempre dormiu: no quarto da empregada. Na rua, univitelinas, à noite, a separação diferenciada.
Entristece-me, não a condição do envelhecimento, entristece-me a desigualdade das alegrias e recompensas envelhecendo juntas.
A medida do tempo é a mesma, mas a semelhança que as une, não!