Anos atrás, eu me encontrava bastante ocupada em honrar um casamento, cuidar de filhos adolescentes e pouco ligada, tecnologicamente, no que acontecia à minha volta. Para não deixar meus filhos sem conhecer os novos tempos, contratei um professor para ensiná-los a “mexer com o computador”. Fiz questão de não me envolver, rejeitando toda e qualquer tentativa de aprender sobre o assunto. Abominava os tempos que estavam mudando, continuava a escrever cartas à mão com caneta tinteiro, a consultar dicionários e a ler livros de papel, convencida e certa que não haveria muitos outros avanços na área. Para mim estava de bom tamanho, como dizem. Aceitei, hesitante, o fax, a substituição dos enormes computadores por pequenas telas em cima de cada mesa do escritório e, conformada, o celular. A vida parecia mais fácil com tais novidades.
Hoje, trinta anos depois, entendo o que é passado e o que é presente. O que é mudança e o que é estagnação. Moderno e pós-moderno.
Ao enfronhar-me no universo profundo da tecnologia, universo no qual só deciframos a primeira camada, espero afastar de mim a doença do alemão, como dizem. Espero usar todas as mil informações recolhidas no computador, agora nas nuvens e que todas sejam usadas e aproveitadas pelo meu cérebro em funcionamento.
(Vingativa, imagino que um dia estas informações guardadas cairão das nuvens sobrecarregadas sob forma de trilhões de letras para nos afogar na nossa temeridade em desafiar céus e terras, chegar a planetas onde não fomos chamados, modificar o cérebro dos robôs para que nos substituam e tanto mais que ainda desconhecemos!)
Mas, enquanto tal acidente de percurso humano não acontecer, continuarei absorvendo e memorizando sinais, símbolos, letras, estrelas, pontinhos, flechas, na busca de compreender por onde navegam meus instintos e vontades. Imaginei que, se aprendesse a ligar-me com as infinitas possibilidades de conexões incompreensíveis, mas factíveis de realização que a cada dia se apresentam inéditas, terei mais chances de não perder a minha preciosa memória do presente. Suponho que, bastando memorizar, a meu favor, os caminhos, desvios, atalhos, links, em busca de satisfazer a minha curiosidade e encontrar um resultado, estarei continuamente prestando atenção ao detalhe e concentrando-me nos símbolos da telinha que preciso dominar, portanto, mantendo minha memória e espírito em dia e não mais correndo tanto risco em só encontrar lembranças de um passado em ruínas. Talvez, evitamos assim nos tornar um mal necessário, um estorvo. “Plugada “no presente, estou no presente acontecendo! Sou + eu +!