Só hoje entendi porque os votos de felicidade sempre chegam acompanhados de “muita saúde”!Um dia após completar 69 anos, acordei doída. Refletia, mais uma vez, sobre o tempo que passa. Sente-se, literalmente, no corpo, seus feitos e arrependimentos, dores e juventude. O doído do corpo, contudo, é do tempo que passou. A dor não deixa esquecer os anos vividos. Hoje cedo pareceram serem tantos para em seguida tornarem-se tão poucos e tão desconhecidos. Impossível aperceber-se, enquanto o tempo está passando, que ele pertence ao futuro.
O TEMPO como figura de medição contém em si o contraditório e acredito que por essa razão aceitamos viver por ele exigir, a cada dia, uma prova que o superamos: é o ano que se foi e a idade que aumentou!
O contraditório reside no fato que, se por um lado, percebemos aos 70 a liberdade apoiada na estranha leveza do SER – livre de deveres, de compromissos mal resolvidos, dependência de outros para conosco e de nós para com eles, – por outro passamos a viver, simultaneamente, não mais a estranheza do tempo que passou, mas o desalento que daqui para frente o tempo se reduzirá a datas festivas como que jogando o jogo da velha. Cruz se erramos, bolinha se acertamos o número de natais que ainda vamos festejar.
Esta reflexão não é de tristeza ou melancolia.
A qualidade da Liberdade conquistada supera quaisquer outros males da alma. O passado deixa de ser e o futuro emerge apaziguador. Sem mais sobressaltos, simplesmente feliz. Perdas, dores, alegrias vão se desfazendo e o manto do esquecimento aquece a alma a caminho do repouso. É a hora de se indagar se a alma existe e esquecer da máxima de que “ o tempo passa e passa tão depressa.!“. Aos 70 você sabe que ele não passou tão depressa e continuará passando como sempre passou: no presente vivido.