1 de abril de 2020
Li em algum lugar – e para vocês deve acontecer o mesmo tantas são as mensagens – que as esqueço assim que clico na próxima.
O envio dizia: o número quarenta é simbólico. Para começar, a quarentena mundial. Dizia que o nosso ano, somado, é igual a quarenta. Que Jesus ficou quarenta dias no deserto meditando e Moisés quarenta anos fugido com seu povo errante da perseguição dos egípcios. Em italiano, em casos assim, se diz: “caso não for verdade está bem achado” (se non é vero é ben trovato). Estas afirmações comparativas para justificar onde nos encontramos no nosso planeta tem um sentido místico aceitável, mas não creio ser profecia.
Hoje “me peguei” no estado de espírito entre a neurose e a alegria. Estes dois sentimentos se alternaram sem conseguir identificar qual predominou durante neste décimo sétimo dia de reclusão. Admito-os aqui, imaginando que não devo ser a única a passar momentos assim.
Leio o jornal diário (luvas de plástico – que economizo com receio que faltem – apenas na mão direita, a que vira as páginas. Porém, de repente, os dedos da mão esquerda, inconscientes do perigo, tocam a folha esquerda para que eu possa enxergar o texto. Este foi o primeiro sentimento neurótico pois eu não desinfetei o jornal. Em seguida a sensação esvaiu-se ao lavar as mãos – provavelmente a quinta vez desde que acordei para fazer meu café. (Lavar as mãos é por enquanto a única tarefa que me dá segurança de que sobreviverei. Isso é triste, penso eu!).
A alegria do dia é ter passado as duas semanas sem sintoma algum, o que me informa que estou obedecendo a orientação, sábia, do Ministério da Saúde. Acompanha esta alegria saber que o ministro não cogita – ainda- se demitir do cargo que vem organizando de maneira louvável.
(Meu desejo tenebroso, confesso, é que o presidente poderia dar o exemplo para o que ele designa, genericamente como povo, de que o vírus mata, morrendo contaminado ele mesmo…)
Estava esquecendo o principal prato do dia: fiz um frango assado. Deixei-o de molho no vinho branco e fui colocando todas as ervas disponíveis cujo resultado, no sabor, eu ignorava. Por ser desajeitada, – meu pai dizia que eu tinha duas mãos esquerdas -, o complicado mesmo foi manter minha atenção ligada no forno para que o meu jantar não virasse carvão. Por sorte, uma amiga caridosa sugeriu que eu usasse o timer do celular. Foi o que eu fiz e deu certinho. Sem sujar mais uma panela, esquentei um saquinho de arroz integral regado com o molho de vinho temperado, delicioso. Infelizmente não tenho como lhes passar a receita porque os temperos foram inventados. Esta foi a maior alegria do dia: o frango estava macio e muito saboroso. Na primeira garfada achei que já soubesse cozinhar…Um engano!
Felicidades com vossos almoços e jantares.
Boa noite
Bettina